Diocese de Assis
Viver a fé cristã exige a crença na ressurreição dos mortos. Sem esta, nossa fé é vã, como bem disse o apóstolo. “Só tu, ó Mestre, tens palavras de vida eterna”, afirmou Pedro. Acontece que grande maioria dos seguidores do Mestre galileu ainda não se deu conta dessa verdade, incrível, mas incondicional verdade: sem ressurreição tudo o mais perde sentido. A Páscoa cristã celebra a vitória da vida sobre a morte.
Por isso é que dizemos que alguém fez sua Páscoa ao nos referirmos à sua morte. Estamos nos referindo à sua “passagem”, ou seja, mudança desta para outra vida, do mundo físico e de sua realidade material para um mundo em dimensão mais ampla, posto que acreditamos em nossa realidade espiritual. Acreditamos mesmo? Então por que dor e sofrimento, lágrimas copiosas, lamento e até injúrias contra os céus quando a morte nos bate à porta, nos rouba a convivência com um ente querido, nos fere tão profundamente? Porque essa é a vida que ainda temos e não nos foi dada uma nova experiência de vida senão aquela que nossos olhos vislumbram e nosso coração anseia por preservá-la. Nada mais natural. Correto, corretíssimo, conquanto somos amantes da vida, não da morte.
Onde entra nossa realidade espiritual, aquela salientada nos ensinamentos cristãos e bem assimilada pela singeleza da descoberta de Pedro? Palavras de vida eterna! Compreender esse mistério é descobrir a fonte da verdadeira vida. A plenitude que buscamos. A perpetuação que sonhamos. Essa foi a descoberta do pescador, diante dos questionamentos apresentados por Jesus. Quem quisesse seguir outros caminhos, ficasse à vontade. Somos livres para escolher nossa estrada. Ou fincar nossos pés nesta vidinha rápida e prazerosa, feita de momentos e alegrias fugazes, ou levar adiante nosso sonho de eternidade e, mais ainda, acreditar na possibilidade de ressurreição, de vida nova em Cristo! O livre-arbítrio é direito nosso. Podemos escolher entre as paredes de uma vida finita e a amplitude de uma existência mais que perfeita, posto que infinda.
De Cristo dizemos ser Ele a ressurreição e a vida. Tanto que salientamos sua presença no meio de nós, no hoje, no agora tanto quanto no inicio dos tempos e no seu tempo histórico entre nós. Cristo ontem, hoje e sempre! Sua presença física ainda é real através dos mistérios eucarísticos do catolicismo, mas sua presença espiritual entre nós e em nós continua como mistério só visível e compreensível aos que “ouvem sua palavra e a põe em prática”. Uma graça concedida àqueles de coração puro e alma sedenta de vida plena.
Nesta Páscoa coroada por tantos sinais de morte, aureolada pela dor e sofrimento de uma humanidade surda e cega ao milagre da vida, sejamos mais coerentes com os princípios de uma fé que vai além dos nossos limites terrenos. Cristo superou esses limites, venceu a própria morte! Não o fez apenas por méritos humanos, orgulho pessoal ou exibicionismo de poderes. Ressuscitou para que também nós pudéssemos seguir seus passos. Como Mestre e Senhor, apenas nos aponta um novo caminho, apresenta-nos outra perspectiva de vida além da realidade que aqui constatamos.
Se quisermos aumentar nossa fé e renovar nossas esperanças de vida plena e perfeita, sem pandemias, sem sinais de morte, olhemos mais seriamente as profundezas do túmulo vazio de Cristo. A pedra foi removida, Ele ressuscitou! Não mais ocupa o espaço limitado pela caridade de José de Arimateia, que lhe emprestou o próprio túmulo. Transformou a piedosa caridade humana ao sepultar seus mortos em ação de plenitude, de crença em algo mais, ou seja, também nós poderemos vencer a morte! Os passos do Ressuscitado deixam marcas na areia de nossas incertezas…
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]