Diocese de Assis
Surpreendeu o catolicismo brasileiro a clareza de ideias e a visão realista do Papa Francisco em relação à turbulenta realidade que atravessa nosso povo. A pandemia afeta não só a vida, mas também a fé. Há crises em todos os setores, mas especialmente no campo espiritual atravessamos um momento delicado, cujo trabalho evangelizador da Igreja tem que superar à luz do anúncio Pascal, que sempre foi renovador das esperanças no coração humano. Em suma, foi essa a introdução da mensagem papal na abertura da 58ª. Assembleia Geral da CNBB, que se dá virtualmente pela primeira vez na história.
A mensagem de Francisco foi curta, mas profundamente prática em sua capacidade de detectar um problema e apontar soluções. “É possível superar a pandemia, suas consequências”, afirmou o Papa. Teria ele o antídoto perfeito para tão trágico momento da recente história que escrevemos? Antes, Francisco nos lembra o outro lado da nossa realidade. “Nossa fé em Cristo ressuscitado nos mostra que é possível superar esse trágico momento. Nossa esperança é o Salvador. A unidade nos ensina a chorar com os que choram, a dar a mão aos mais necessitados, para que voltem às suas raízes. A caridade nos ensina, a nós como bispos, a despojar-nos. Não tenham medo de despojar-se. Cada um sabe do que…”
Assim motivado, Francisco aponta o caminho: “É possível superar a pandemia. É possível superar suas consequências, porém só superaremos se estivermos unidos”. Então lembra nossos bispos da necessidade primeira que caracteriza uma Igreja una e santa: “A Conferência Episcopal deve ser una neste momento, porque o povo que sofre é uno!”
Diante desse providencial lembrete, eis que divergências e disparates na condução do “rebanho” tem sido o maior ato falho daqueles que governam nosso povo. Onde está a tal “imunidade de rebanho”, quando sequer vacinas temos? Mas aos nossos bispos compete também e principalmente a “unidade” em tempos difíceis. Esta que nos conduz à solidariedade, que nos ensina a caminhar juntos, a compartilhar não só pequenas conquistas, mas sobretudo dores e sofrimentos.
Francisco nos lembra a fantástica história de nossa padroeira. “A imagem de N. Sra. Aparecida, que foi achada quebrada, pode ser símbolo da realidade brasileira. O que estava separado recobra a unidade. Em Aparecida Deus nos dá uma mensagem de recomposição do que está separado, de reunião do que está dividido… Muros, barrancos e distâncias a desaparecer… A Igreja não pode desentender essa lição. A Igreja deve ser instrumento de reconciliação. Hoje, mais do que nunca, me parece necessário deixar de lado as divisões, os desacordos. É necessário encontrar-nos no essencial, por Cristo, com Cristo e em Cristo”.
Vencer um vírus não se limita às ações da ciência, da profilaxia, da medicina. Há outro aspecto nessa cura que buscamos. E o Papa nos diz: “É preciso superar não só o coronavírus, mas também outro vírus que infecta a humanidade: o vírus da indiferença que nasce do egoísmo e gera a injustiça social”. Precisamos nos unir nessa luta. Luta que é de todos os setores da comunidade humana, do governo, dos empreendedores, dos religiosos. A Igreja não está fora desse combate. Para tanto, o Papa nos lembra que “unidade não é uniformidade, mas harmonia. Essa unidade harmônica só o Espirito Santo nos dá”, conclui o santo padre.
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]