Diocese de Assis
Era um homem bom. Assim todos se referiam à vida de Maurilio Dias, mais uma vítima dessa voraz pandemia que assusta o mundo. Foi a óbito no último 29 de maio, em Assis, onde construiu sua história de sucesso e conquistou a admiração de muitos. Todavia, sucesso e admiração nunca foram a única bandeira desse empresário de 62 anos, cuja história foi regada de muita luta e perdas irreparáveis, mas também de muita fé. Esse é o outro lado que pretendo contar aqui, pois se esse seu lado místico era desconhecido de muitos, agora não mais o será.
Homem de fé inigualável. Tanto que, desde o início de sua vida conjugal, quando nos conhecemos, caminhou comigo num desafio missionário sem precedentes na história do catolicismo diocesano. Juntos, sua esposa Maria, minha esposa Célia, eu, Mazola, (in memoriam), Sergio (um dos seus sócios), Carlos, dona Dulce (mãe do Sergio), Marcília, Manoel, Valdir, Valter e uma dezena de outros nomes que agora me fogem, fundamos em Assis o primeiro grupo de leigos missionários da nossa diocese. Reuníamo-nos semanalmente (às terças-feiras) numa das salas laterais no segundo pavimento da nossa catedral. Ali refletíamos sobre os Evangelhos e distribuíamos tarefas entre nós, para exercermos nossa missionariedade. Maurílio chegou a ser presidente do grupo LAM (Leigos para animação missionária) e desenvolvia suas ações sempre com muita alegria e responsabilidade.
Dessas atividades e reflexões nasceu o livro Os Evangelhos Passo a Passo (4 volumes, Editora O Recado – SP), um jornal diocesano intitulado Integração Comunitária e um programa radiofônico semanal intitulado Difusora Mensagem. Maurílio caprichava na edição do programa, quando este ficava sobre sua incumbência. Tanto que, durante seu velório, passados tantos anos desses trabalhos missionários, alguém ainda se lembrou desse programa de sucesso e do fato de Maurílio ter sido ministro da Eucaristia na nossa catedral. Foi, sim. Atendia capelas rurais, onde fazia a celebração da palavra e levava a eucaristia ao povo. Numa dessas ocasiões, foi surpreendido pela inocência de seu filho Lucas, que o acompanhava, levando consigo as ambulas sagradas. Chegando à comunidade, Maurílio não encontrou as espécies eucarísticas… Sorrindo, Lucas lhe apontou o próprio coração e disse: Jesus está aqui, papai! Durante o trajeto, o menino havia consumido todas as hóstias consagradas!
Esse menino, Jesus quis para si. Morreu inesperadamente, colocando o casal num estágio de provação que ninguém deseja. Mas a fé venceu, mais uma vez e puderam então adotar, de uma forma quase milagrosa, um segundo filho. Neste período, Maurílio se viu desempregado, juntamente com alguns colegas. Juntaram forças e com o pequeno capital que lhes restou das indenizações recebidas, fundaram nova empresa, dentro do seguimento que bem conheciam. Rapidamente, o investimento daqueles jovens ganhou o mercado, solidificou-se e tornou-se o que hoje bem conhecemos em Assis, a maior e mais conceituada empresa do seguimento de materiais elétricos e serviços na região. Mas o sucesso empresarial nada significaria sem seu testemunho de vida.
Tanto que, no primeiro dia de reabertura da empresa depois de sua morte, uma cerimonia chamou a atenção de todos os que por ali passavam. Era uma homenagem pública que lhe faziam sócios, parentes e funcionários. Um desses transeuntes, sem ter convivido com o homenageado, sentiu-se atraído pela sua história e publicou nas redes sociais: “Fui pesquisar e fiquei surpreso com o legado desse homem, que todos diziam, unanimemente: era uma pessoa boa, era uma pessoa boa… Deixou-nos um testemunho, um legado de bondade que dinheiro não compra. Quem viveu ou conviveu com esse homem, orgulhe-se por ter conhecido alguém que soube viver… e morrer”.
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]