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Diocese de Assis

 

Uma curiosa cena, digna das telas cinematográficas, foi registrada nesta semana numa das salas de audiências do Vaticano: uma pessoa vestida como o personagem dos filmes e quadrinhos do Homem-Aranha, com grandes olhos brancos e traje vermelho justo, foi apresentado ao Papa Francisco. Levou como presente ao sumo pontífice um protótipo de sua curiosa máscara. Sorridente, Francisco cumprimentou o personagem e aceitou seu presente. Mas o que está por trás dessa pitoresca audiência? Tratava-se do jovem italiano Mattia Villardita, 27 anos, que no ano passado recebeu um prêmio do presidente italiano Sergio Mattarela, pelo trabalho que fazia com crianças hospitalizadas e doentes. Mattia, travestido de super-herói, era uma espécie de “médico da alegria”, num incansável trabalho de resgatar a auto estima de crianças adoecidas. Daí o mérito da audiência e da bênção papal.

Também por trás da história desse super-herói existia um jovem órfão – Peter – que vivia com seus tios. Estudioso e disciplinado, um dia descobriu, acidentalmente, seus super poderes (lúdicos e fantasiosos, mas que alimentaram o sucesso do personagem fictício). A adaptação do enredo de Stam Lee e Steve Dikito para o cinema e outras mídias deu a seus produtores os dividendos extraordinários de uma história com muitos filmes de sucesso e milhões de revistas em quadrinhos editadas no mundo todo. Na esteira desse sucesso, alimentou sonhos e fantasias de muitas crianças e adolescentes, cuja imaginação cria asas e sobrepõe-se à realidade na maioria das vezes de forma positiva. Têm em seus super-heróis a resposta que precisam para superar seus limites.

Dessa forma, a não rejeição do Papa para com aquele personagem de ficção lúdica mostra, publicamente, a face maternal e carinhosa com que a Igreja lida com muitas das fantasias humanas. Ela não é uma instituição do pragmatismo apenas. Nem do extremismo existencialista, dogmático, espiritualista puro e simples. Está encarnada na realidade do mundo e dessa não podemos subtrair nossas fantasias, nossos sonhos infantis, nossa realidade criativa, imaginativa, dos super-heróis que povoam mentes e corações. Afinal, quem nunca vestiu uma fantasia de invencibilidade, de super poderes, de atos de bravura em seus egos? Quem não sonhou em ser um super-herói entre amigos ou pessoas que ama? Essa fantasia não tem maldade alguma.

Em contraponto, muitos dos vilões que povoam não só o imaginário, mas também a realidade que nos cerca, estão aí, destruindo sonhos e maculando a inocência de muitas das nossas crianças. Heróis e super-heróis conseguem devolver-lhes ao menos um pouco de esperança num mundo melhor. Diria o Homem-Aranha em um dos seus filmes: “Aquele que ajuda os outros simplesmente porque isso deve ou precisa ser feito, é porque é a coisa certa a fazer, é sem dúvida, um verdadeiro super-herói”. Ou Jesus em sua realidade humana: “Amai-vos como eu”. O heroísmo da fé cristã está justamente na capacidade de seus seguidores em desvencilhar as teias das relações humanas, separando o joio do trigo, o que é bom do que é mal, as crenças e fantasias que tecemos socialmente ou mesmo afetivamente. Nossos heróis, em sua maioria, sucumbiram sob o fio de espadas, prisões injustas e cruzes idiotas. Nem por isso renegaram sua fé, aquela que lhes ensinava “a ajudar os outros, simplesmente porque isso deve ou precisa ser feito”. Para tanto não precisamos de máscaras.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]