Diocese de Assis
Que neste mundo encontramos tempo para tudo, até para o descanso e lazer, todos bem o sabemos. Afinal, não somos de ferro. Acontece que muitos preferem somente a última alternativa e fazem de suas existências uma contínua pachorra de nada fazer fora do seu bel prazer. Vivem às turras com a própria vida, sugando dela o máximo possível do bem-estar e benesses que esta lhes possa oferecer. Que se danem os outros! Um semelhante nunca lhes parecerá um igual, um companheiro, mas alguém do qual se servem para tirar proveito ou algo assim. Se bastam a si mesmo.
Enquanto isso, aqueles que seguem o Senhor, que descobriram haver outro tipo de vida fora dos padrões do individualismo e do comodismo, estão tão ocupados na tarefa de propagar essa descoberta, esse novo estilo de vida, que “não têm tempo nem para comer”. Esses ocupam a barca de Cristo, onde o extenuante trabalho da verdadeira pesca, da travessia sob tempestades, das profundezas das águas, da busca da “outra margem”, do porto seguro…, ah!, esse trabalho toma-lhes o tempo todo! E o cansaço vale a pena. E a recompensa vem da alegria do serviço… da honra de ser útil ao Senhor, de estar a seu lado num mesmo ideal: partilhar com Ele tudo o que fazem e ensinam ao povo.
Com certeza, o extenuante trabalho da verdadeira evangelização tem as cores desse quadro tão bem ilustrado por Marcos (6,30-34), ao narrar a compaixão de Cristo pela multidão de “famintos” que seguiam seus passos. Jesus percebeu o cansaço dos apóstolos e lhes propôs um momento único, com o qual muitos sonham diante das tribulações e dos afazeres desta vida: “Vamos sozinhos para algum lugar deserto, para que vocês descansem um pouco”. Quem nos dera ouvir um dia essa proposta em nossas vidas missionárias. “Descansem um pouco”! O próprio Cristo nos dizendo isso… Mas, para tanto, é preciso fazer por merecer.
E esse aparente descanso foi um hiato do tempo, um refúgio da alma na amorosidade do coração divino, pois, tão logo alcançaram a praia que supunham deserta, eis que uma nova multidão se rompe à frente deles, “famintos” do pão da palavra, da verdade que traziam. “Sabendo que eram eles, saíram de todas as cidades, correram na frente, a pé, e chegaram lá antes deles”. Na solidão de muitas praias desertas, de muitas vidas vazias e ansiosas pelo encontro com a verdade, eis que encontramos multidões. Tais quais aqueles que fazem de suas existências uma contínua busca de satisfação pessoal, de regalias e prazeres que não saciam, nem acalentam seus espíritos e suas almas sedentas de paz. Nem sequer seus corpos em contínua evolução para a morte apenas. Desses Jesus tem compaixão. E deseja resgatá-los com a ajuda de seus discípulos!
O descanso proposto pelo Mestre não é um período de férias coletiva, definido por um tempo proporcional aos nossos direitos trabalhistas. Enquanto aqui estivermos, navegando com Ele em sua Igreja terrena, nosso tempo de descanso será escasso, um hiato apenas, pois as ondas rugem lá fora, no mundo conturbado dos nossos dias. Nosso descanso vem da paz interior que só o trabalho evangelizante pode oferecer, que só o operário da obra é capaz de valorizar, agradecer, bendizer. Nada, nada supera o dom, a graça desse serviço. “Que o meu cansaço a outros descanse”, diz a alma insaciável e o coração incansável. Que a compaixão de Cristo pelas multidões das “ovelhas sem pastor” ganhe também um mínimo do olhar compassivo que devemos devotar a esse mundo “pandemoniacamente” em crise nos nossos dias. Não é hora de descansar!
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]