Diocese de Assis

QUANDO UM PAI CHAMA

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Talvez hoje nem tanto, mas num passado não tão distante um chamado paterno era mais que sagrado; era ordem a se cumprir. “Aqui estou, Senhor!”, seria a resposta quase bíblica do filho ou filha submissos à vontade do pai. Não que essa submissão fosse uma atitude humilhante, meramente subalterna, quase escravagista de uma disciplina de imposições, mas contava antes o respeito e a alegria de ser útil àquele que lhes dera o privilégio da vida, do ser quem era. Simplesmente isso! Obediência a um chamado se cumpria com alegria no coração e brilho nos olhos.

A voz e as ordens paternas delineavam os caminhos e comportamentos do longo aprendizado infantil. “É por aqui, filho; faça assim, busque isso, jogue aquilo!”. Aos poucos, íamos decifrando sua vontade, aprimorando nossos afazeres, buscando a perfeição no caminho da escola doméstica. Era essa a mais autêntica das faculdades da vida, arquitetada sob a sombra de uma amorosa experiência de vida, cuja voz sempre nos apontava o rumo certo de nossos sonhos e ideais. Era essa a mais pura intuição vocacional, o constante chamado paterno ao nosso amadurecimento pessoal: “É por aqui…”

Dessa forma deveríamos entender o que seja uma opção vocacional. Não uma simples escolha pessoal, mas um consciente caminho em resposta aos chamados do Pai. Não que seja Ele o fator determinante das opções que temos pela frente, mas sim a voz ponderada e sensata de alguém que quer sempre o melhor para seus filhos, que bem conhece as necessidades da própria casa e as capacidades que cada filho ou filha possuem para auxiliá-lo na harmonia dum verdadeiro lar, onde todos contribuem com um pouco. Distribui tarefas. Determina funções. Cada qual, à sua maneira, irá proporcionar aos demais o sonhado bem-estar que a família humana tanto busca para sua casa comum.

Em linhas gerais, vocação é isso: uma resposta a um sonho paterno. Foi esse o cerne primeiro dos exemplos vocacionais que encontramos na história da Salvação, na vida dos grandes patriarcas, dos profetas e santos, dos líderes mais bem sucedidos da história humana, dos grandes homens que se destacaram não apenas pela biografia de seus feitos, mas pela simplicidade de suas vocações plenamente realizadas. “Aqui estou, Senhor! Envia-me”, – foi a clássica resposta do menino Isaias ao se colocar a serviço do Pai. Exatamente essa disponibilidade serviçal fez dele um exemplo perfeito da vocação bem assumida. Sua entrega não foi uma resposta meramente submissa, mas um desejo consciente de ser útil, de seguir os desejos daquele que lhe confiava uma missão, um serviço a realizar. Ah!, se nossas escolhas vocacionais primassem por essa alegria, essa disponibilidade, esse amor!

Então é isso?  Não somente, porque o chamado à vocação não se fixa num determinado estágio da nossa existência, na nossa infância ou juventude, no período das nossas escolhas profissionais ou pessoais, mas em todo e qualquer momento da curta passagem pela escola da vida. Porque Deus nos chama dia e noite. Porque, antes de nos confiar uma tarefa doméstica, uma missão circunstancial, Ele nos chama à plenitude da verdadeira vida. Essa é a mais perfeita das missões, a mais sagrada das vocações que nossas inseguranças humanas podem ou não assumir: a vocação à vida.           Dela derivam todas as demais. Por ela haveremos de lutar sempre. Nela encontramos a única realização sonhada e almejada desde sempre. “Eu vim, para que todos tenham vida, e a tenham em abundância!”. Então diga aí: “Envia-me, Senhor”.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

 

 

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