Diocese de Assis

TEMPO DA ALEGRIA

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Dizemos que nada acontece sem um princípio. Lei da Natureza. Também da lógica.             Princípio que aqui poderíamos denominar de Advento, tempo de esperança, de sonhos, de expectativa. Enfim, tempo de preparação para algo de grandioso em nossas vidas. Assim também deveríamos entender as semanas litúrgicas que antecedem o Natal, o dia mais festejado do mundo cristão. “Naquele dia se dirá: Este é o nosso Deus, nele esperamos, e ele nos salvará. Este é o Senhor em quem esperamos” (Is 25,9).

Dizemos também que a esperança cristã surge na simplicidade de um curral, uma estrebaria de animais, envolto na pele de uma criança frágil, inocente, desprotegida… Mas um provérbio chinês (por que todo provérbio tem que ser chinês?) ainda nos lembra: “O grande homem é aquele que não perdeu a candura da criança”. A verdade é que ambas as citações só reafirmam a grandiosidade do maior milagre que se tem notícia na história da humanidade: Deus se fez criança para salvar sua criação maior. Este é o Senhor…

Tentar compreender os mistérios e a lógica da ação de Deus em nossas vidas é inverter o processo princípio-e-fim da melhor definição que possamos fazer de Deus. Alfa e Omega, ou seja, extremidades infinitas, sob cujos mistérios a sabedoria humana não consegue penetrar. Mas sentí-lo, tocá-lo, viver com Ele uma experiência concreta de amor, sabedoria, entendimento ou qualquer outra experiência de reciprocidade, sim, isto sim é possível no agora de qualquer um de nós. Basta nos tornarmos criança diante de sua inquestionável paternidade criadora. Basta-nos a compreensão de quão insignificantes somos diante da grandiosidade de sua obra. Basta-nos deixarmos de lado os pedestais de nossa arrogância e prepotência.

A mais bela das poesias paulinas já nos ensinava: existe tempo para tudo. Para colher, para plantar, para sorrir, para amar, ficar triste, se alegrar… No processo do crescimento humano, a infância é o tempo das descobertas, da percepção das dores e alegrias, da compreensão de que o coração que bate num peito humano também é sede de seus mais autênticos sentimentos, os impulsos de sua alma. A espiritualidade é inerente ao ser humano, apesar de muitos a negarem ao longo de suas vidas. Mas que ela esteve em nossos berços, acompanhou-nos nos primeiros passos, sentou-se ao nosso lado nas primeiras leituras, não tem como negar. Sim, toda e qualquer criança compreende e melhor irradia sua própria espiritualidade.

Nosso problema é que nos tornamos adultos. Daí que a soberba de nossas aspirações e a lógica de nossas “lógicas” realizam verdadeiras varreduras na maneira com que cada indivíduo define seu existir. A ideia do divino, do transcendente, do sobrenatural só prevalece quando bem acentuada e orientada na infância. Portanto, o advento cristão necessita que nos tornemos crianças, que reconheçamos sempre nossa pequenez e dependência diante de tudo que é divino, grandioso como nosso “Pai que está no céu”. Que nossa humanidade não se perca nas amarras da vaidade, do existencialismo puro e simples, nas teias da prepotência de se sentir deus, senhor do universo e das criaturas, mentor e manipulador de todas as ciências…. Ah, pobre animal racional, mas irracional na sua ignorância da própria origem.

A humanidade do Deus-menino, que só o presépio cristão apresenta ao mundo, além de seu aspecto místico e poético, é a maior das provas de que o tempo é senhor da verdade – no caso, da Verdade- pois só ele para amadurecer no coração irredutível da humanidade a ideia de um Deus Uno, porém Trino, que se faz um conosco tão somente para nos convidar a sermos um com Ele, a darmos novo sentido à nossa história, com princípio, meio e fim. Portanto, Advento é Tempo da alegria; alegria de novas descobertas e compreensões dos mistérios que rondam nossa espiritualidade, nossa fé.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

 

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