Diocese de Assis
Com tantos acontecimentos negativos no mundo; com tanta violência; com tanta desumanidade, principalmente as que podemos constatar à nossa volta, corremos o sério risco de desacreditar nas pessoas, na gente mesmo, em Deus, na comunidade, no bem, na verdade, no amor, na fé… na justiça. Parece que não vale mais a pena! Se isso começou a ser sugerido em seu coração, fique atento. Você é um forte candidato ao posto de crítico-omisso-derrotista, que permite a multiplicação de acontecimentos nocivos pelo mundo, a banalização da violência, e o crescimento da desumanidade, principalmente, à sua volta.
É verdade que muita coisa não está bem. Pior, ainda, algumas estão indo de mal a pior, fazendo a vida perder a graça. Mas, e daí? O que vai resolver cruzar os braços e dizer: ‘já fiz minha parte!’ ou ‘tô nem ai!’ ou ‘tem jeito não!’ ou ‘…’
Precisamos voltar a acreditar! O grande mal do mundo é que, pouco-a-pouco, tem-se deixado de acreditar nas pessoas, em si mesmo, em Deus, na comunidade, no bem, na verdade, no amor, na fé… na justiça.
E, por falar em justiça que tal reinventarmos a sua força como de um broto? Quando, por ocasião de uma semeadura ou até mesmo de uma raiz se permite à semente ou à planta o tempo do broto, certamente, não faltarão frutos.
Todos os dias externamos nossa insatisfação com a justiça humana, muitas vezes, criticada como cega, impotente, cúmplice, corruptível… Se a nossa decepção com a justiça humana está relacionada à impunidade, à morosidade e parcialidade da lei, ao invés do desencanto com a lei, deveríamos refazer o ideal de justiça como broto, nas pequenas coisas, nos pequenos gestos, nas escolhas, nas decisões, nos compromissos e nas posturas que assumimos dia-a-dia.
Um broto é explosão de vida e pura expressão de desenvolvimento que contrasta com sua enorme fragilidade e delicadeza. Broto é esperança, é oportunidade. O Broto faz justiça à semente e os frutos fazem justiça ao broto.
A intuição bíblica do broto, como primeira imagem do que se espera da semente, em vista dos frutos, nos coloca, imediatamente, diante da cotidiana responsabilidade do ser, do crer, do querer e do fazer. “Amor e Fidelidade se encontram, Justiça e Paz se abraçam. A Fidelidade brotará da terra, e a Justiça se inclinará do céu. Javé nos dará a chuva, e nossa terra dará o seu fruto. A Justiça caminhará à frente dele, a salvação seguirá os seus Passos” (Sl 85,11-14).
Na verdade, direta ou indiretamente, todos os dias, estamos colhendo frutos indesejáveis de uma justiça que não cultivamos, nem como semente, nem como broto. O problema da justiça não está nos tribunais, está em cada um de nós. Nos tribunais, quem sabe, temos de forma maiúscula aquilo que não percebemos ou não admitimos em nós. Como diz o ditado: “Vamos colhendo o que plantamos!” O que temos plantado?
O Salmo 72,2-17, traz as seguintes considerações: “Que o Senhor governe seu povo com justiça, e seus pobres conforme o direito. Que em seus dias floresça a justiça e muita paz até o fim das luas. Porque ele liberta o indigente que clama e o pobre que não tem protetor. Ele tem compaixão do fraco e do indigente, e salva a vida dos indigentes.”
A profecia sobre o rei justo e a emergência da justiça tem, em Davi, seu grande anúncio e, em Cristo, sua plena realização. “Do tronco de Jessé sairá um ramo, um broto nascerá de suas raízes. Sobre ele pousará o espírito de Javé: espírito de sabedoria e inteligência, espírito de conselho e fortaleza, espírito de conhecimento e temor de Javé. A sua inspiração estará no temor de Javé. Ele não julgará pelas aparências, nem dará a sentença só por ouvir. Ele julgará os fracos com justiça, dará sentenças retas aos pobres da terra. Ele ferirá o violento com o cetro de sua boca, e matará o ímpio com o sopro de seus lábios. A justiça é a correia de sua cintura, é a fidelidade que lhe aperta os rins…” (Is 11,1-10).
Eis o tempo de se abrir à justiça divina para poder sair do embaraço da justiça humana! Os dias para a justiça florir são todos os dias de nossa vida e de nossa história, a começar de agora! “O Justo vive pela fé” porque “a justiça se revela única e exclusivamente através da fé” (Rm 1,17).
PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS