1

Diocese de Assis

Não. Não vou falar de nenhuma fênix ou de qualquer lenda mitológica. Vou falar da realidade que estamos vivendo. Nunca se viu tamanha descrença ou desesperança num mundo em crise e doentio, como a que se vê atualmente. Deixei escapar essa minha desolação ao lado de um padre, mui amigo, e, para minha surpresa, ele concordou comigo. A fé humana está em crise.

Seria mesmo isso? Ou somos nós que nos revestimos da desolação que nos cerca. Deixamos de enxergar a bela e genuína fé dos muitos que ainda têm Deus como único e verdadeiro escudo para as ameaças contra sua integridade espiritual ou mesmo física. Questão meramente pessoal, dirá você. Mas o fato ainda persiste, pois a maledicência, o individualismo, desespero de alguns e cinismo de outros, além do esvaziamento das muitas ações e ou celebrações comunitárias, é o que se vê claramente. Alguns dizem: é a pandemia. Não vemos o mesmo em eventos esportivos, nos bailes que a vida nos dá, nas confraternizações de muitos grupos e ou famílias ainda enclausuradas em seus guetos e posses. Seria isso mesmo?

A realidade não nos mostra tudo. A fé não é um mero sentimento. Nem objeto de pesquisa que se possa aferir com instrumentos da nossa tecnologia. Por mais pessimista que seja uma avaliação superficial sobre esse assunto, nunca teremos um quadro real ou estatísticas confiáveis que nos permitam uma avaliação da mística popular. Na dor ou nas privações, na alegria ou nas conquistas diárias de cada ser humano, o fato é que a fé sempre esteve e está presente, delineando seus passos, galgando montanhas de desafios, aplainando seus caminhos, sobrepujando suas forças. Mesmo nas variações de crenças e mitos, de religiões e agremiações de fé, a mística humana se manifesta e abre as portas das nossas incertezas e ou desafios que a vida faz. Foi sempre assim. Assim continua sendo. Assim será.

A mística humana e suas crenças no sobrenatural independe de qualquer denominação religiosa ou cultural. Deus é o mesmo em todos os idiomas e para todos os povos. Renasce no coração humano a qualquer tempo e em todas as circunstâncias. Principalmente quando a insegurança toma conta, quando a fome aperta, o medo afronta, a dor aflige, a doença ataca… Eis, pois, que das cinzas que nos sobram é que a fé renasce. Eis pois que da manjedoura do abandono e dá incompreensão é que um Deus-menino se manifesta. Do Natal cristão ressurge a esperança, a expectativa de que dias melhores virão.

“É preciso nascer de novo”, diria Jesus diante da incompreensão daquele cuja fé estacionaria na evidência dos fatos, na lógica, no plausível. Compreender esse desafio é ultrapassar os limites do mundo que nos assombra, pois a fé da escola de Cristo desconhece barreiras, vai além. Esse é o grande milagre daquele cenário utópico, desprovido de qualquer lógica ou mesmo racionalidade, que nos salta aos olhos a partir do presépio cristão. Um Deus que nasce numa estrebaria. Entre animais, rejeitado pela hospedagem dos humanos, sem qualquer conforto! Poderia vir algo de bom em tais circunstâncias?

Essa é a fé cristã. Um fruto da rejeição e da incompreensão humana desde sua origem. Um nascimento que precisou apenas de um “sim” puro e maternal, para que o espírito humano renascesse das cinzas cruentas de uma lógica fora dos padrões que defendemos. Nascer de novo é a possibilidade que nos oferece esse tempo de luz e de esperanças renovadas. Bom renascer!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]