DIOCESE DE ASSIS
Já tive a graça de fazer algumas viagens ao exterior. A primeira delas foi ao Chile, em 1998, na jornada mundial da juventude. Fomos de avião, e atravessamos, sob turbulências, a cordilheira dos andes. Eu nem me importei com as turbulências; pensei que era normal. Era também, minha primeira viagem de avião.
Hoje, depois de outras viagens ao exterior e, principalmente, depois de uma viagem iniciada no domingo às 7h30 da manhã e finalizada às 15h35, no aeroporto de Cebu, Filipinas, me encontro na Assembleia Internacional da Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas, de 15 a 30 de janeiro de 2019. Estou, precisamente, na casa de oração dos Agostinhos Recoletos, em Talavera, região 7 da cidade de Toledo, na Província de Cebu.
A Assembleia a que me refiro é um grande encontro que acontece a cada 6 anos e reúne irmãos de vários países; neste ano somos sacerdotes de 24 países, onde as línguas se misturam mas, não se confundem. O tema desta assembleia é: “Presbíteros Diocesanos Missionários, à luz do Testemunho de Carlos de Foucauld.
Muitas coisas chamam a atenção neste encontro: a diversidade das origens dos irmãos, a ajuda solidária para a chegada e estada, a partilha de vida, a oração, o testemunho de vida inserida nas realidades mais gritantes, o clima fraterno e a alegria do encontro.
Não obstante essa lista de destaques, uma situação que, particularmente, me chama, muito, a atenção é o fuso horário.
Parece que eu entrei numa máquina do tempo e, pouco a pouco: do Brasil a Paris, de Paris a Dubai e de Dubai a Cebu fui entrando na progressão de horas que foram me levando para o futuro. As Filipinas e o Japão se avizinham. O fuso horário do Japão, em relação ao Brasil, é de 12 horas de diferença; no horário de verão passa a ser 11 horas. Já com as Filipinas a diferença de fuso horário no Brasil é de 11; no horário de verão é de 10 horas. E esses não são os únicos fusos horários com horas avançadas; em Sidney, na Austrália, sem horário de verão, a diferença de fuso horário é de 14 horas e no Kiritimati, pertencente ao conjunto de ilhas ao sul do Havaí, a diferença sobe para 17 horas em relação ao Brasil (sendo o parâmetro o horário de Brasília).
O impacto da mudança do tempo sobre a gente é incrível. A diferença do fuso horário nos coloca a frente do tempo de tantos lugares e afeta o corpo com diversas sensações inusitadas: a sensação de não ter vivido um tempo que, simplesmente, sumiu no relógio e, por outro lado, a sensação de estar vivendo as coisas antes do que os outros; o corpo sonolento e, ao mesmo tempo, precisando corresponder aos novos horários do lugar; enquanto, por aqui, estamos indo dormir, no Brasil, estão se preparando para o almoço…
Mas, afinal de contas, o que é mesmo o tempo, senão uma medida que serve como linha divisória, a partir do dia e da noite, como seus luzeiros, como nos lembra o Gênesis, na Sagrada Escritura?
O tempo, em termos de dia e de noite, nos coloca em avanço ou em atraso no que diz respeito ao relógio e ao calendário. Dezessete horas, a mais, no relógio faz muita diferença; bem como onze, dez… E o interessante é que, embora exista uma diferença de tempo tão severa que, coloca uns mais a frente e outros mais atrás, no relógio e no calendário, existe uma linha de simultaneidade existencial que nos emparelha, seja pela comunicação (ainda mais em tempos de whatsapp), seja pelas notícias dos meios de comunicação social, seja por outras formas de contato.
Por enquanto, sigo tentando ambientando-me ao lugar, ao horário e a tudo o que o corpo e a mente necessita, enquanto avançamos nas reflexões propostas pela assembleia internacional da Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas. Uma coisa, porém, já está clara: quando a ambientação estiver quase completa, será a hora de voltar para casa e, obrigatoriamente, voltar nas horas, no calendário, no tempo. Assim, nas Filipinas, o povo segue à nossa frente, algumas horas a mais; e, nisso, não podemos alcançá-lo, jamais.
Em tudo Deus é Senhor! Ele é, também, o Senhor do tempo!
- EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS