Diocese de Assis
Conhecemos pouco ou quase nada sobre as pessoas e realidades que estão à nossa volta. Na verdade, conhecer é não é uma simples autodeterminação da vontade. Além do desejo de conhecer, que impele uma determinada pessoa para o “objeto” de sua busca de conhecimento, existe aquilo que se mostra e aquilo que se esconde, naquilo que se pretende conhecer. Por mais que se conheça sobre uma determinada realidade, muita coisa escapa a quem busca. E essa reserva da verdade presente em todas as coisas e pessoas é o que, de certa forma, garante a integridade e o mistério de tudo. Porque, se fosse possível esgotar todo o conhecimento de algo ou de alguém, seu destino estaria passível de todo tipo de dominação e controle.
Toda busca de conhecimento tem por objetivo, penetrar as realidades mais profundas e a verdade última de todas as coisas, mas isso não é possível, nem buscas espirituais e nem tão pouco pela especulação científica.
Enquanto os recursos humanos são insuficientes, a iniciativa de Deus é repleta de comunicação da mais alta profundidade, porquanto, Ele não só se deixa encontrar e se dá a conhecer, mas, se revela e se põe a descoberto aos olhos e aos corações.
A tradição bíblica é toda ela, por um lado, marcada pela história da insistente busca de Deus e seus percalços e, por outro lado, pela incansável revelação de Deus e as incompreensões humanas. Numa ou noutra situação é Deus que, sempre, move quem dele se aproxima e vencendo nele, inclusive, todo tipo de má vontade, senões e pouca vontade.
Deus, sempre, toma a iniciativa. Ele vai ao encontro de quem o busca e o quer conhecer.
A montanha, lugar da revelação de Deus, segundo a tradição bíblica, é o lugar preferido de Jesus, nos evangelhos sinóticos, principalmente em Mateus e Marcos. Recordemos o sermão da montanha e a transfiguração no Horeb.
No contexto da missão dos Doze, no capítulo 9, Lucas apresenta a narrativa da transfiguração, quando Jesus leva, consigo, para o alto, Pedro, Tiago e João e se transfigura diante deles.
Eis o texto bíblico:
“Jesus levou consigo Pedro, João e Tiago e subiu à montanha para rezar. Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante. Eis que dois homens estavam conversando com Jesus: eram Moisés e Elias. Eles apareceram revestidos de glória e conversavam sobre a morte que Jesus iria sofrer em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam com muito sono. Ao despertarem, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com ele. E quando estes homens se iam afastando, Pedro disse a Jesus: “Mestre, é bom estarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Pedro não sabia o que estava dizendo. Ele estava ainda falando quando apareceu uma nuvem que os cobriu com sua sombra. Os discípulos ficaram com medo ao entrarem dentro da nuvem. Da nuvem, porém, saiu uma voz que dizia: “Este é o meu Filho, o escolhido. Escutai o que ele diz!” Enquanto a voz ressoava, Jesus encontrou-se sozinho. Os discípulos ficaram calados e naqueles dias não contaram a ninguém nada do que tinham visto” (Lc 9,28-36)
Subir à montanha e olhar do alto é o propósito de maior elevação que uma pessoa pode viver porque entra na pedagogia divina, porquanto, enxerga melhor, tudo o que está à sua volta, ouve mais nitidamente a voz de Deus (“Este é meu filho amado”), aproxima-se dos fundamentos visíveis da vida e da fé (Moisés e Elias), toma contato com as razões últimas do coração de Deus (Jesus transfigurado), entra em contato com autoridade de Jesus e sua missão (“Escutai o que ele diz”), aprende a dinâmica do silêncio (“Os discípulos ficaram calados”) e se dá conta que é preciso guardar no coração (“não contaram a ninguém nada do que tinham visto”).
A experiência do Horeb, se por um lado, mostra um Deus que se revela, mostrando tudo de si e do seu Reino, com a Transfiguração, por outro lado, apresenta o difícil caminho de volta; de levar Deus para a vida e para as práticas cotidianas.
PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS