Diocese de Assis
Para muitos, a educação religiosa caducou. Não há mais espaço para ela no mundo atual, onde impera a realidade da matéria e seus apêndices seculares, sem Deus, sem utopias, sem as arestas da fé, seja esta de tradição milenar ou mesmo origem tribal. O “Ide, pois, e fazei discípulos”, não mais encontra eco na realidade tangível e cruenta do homem moderno. Será mesmo? Tenho certeza que não. A fé está em plena e gloriosa ascensão. “Hoje, mais do que nunca, educar na fé significa fazer que alguém se ponha, não apenas em contato, mas em comunhão, em intimidade com Jesus Cristo, como afirmou São João Paulo II e como insiste o recente Diretório para a Catequese” (192). Educar, pois, na fé, também é uma ferramenta de evolução que traz muitos progressos e benefícios para os dias atuais.
Quando o coração humano se esvazia de seus dilemas para se deixar transbordar pelas maravilhas de suas conquistas e evoluções tecnológicas, há um hiato de revelação que o faz pensar na sua transcendência, na sua origem divina. Esse “transbordamento” é a alegria das revelações de fé, experimentada pelos discípulos e evangelistas e divulgadas por eles em seu apostolado sem limites. Lucas, por exemplo, se deixou “transbordar” em seus escritos. Outros em suas pregações. “Percebe-se a importância de ter alguém para transmitir seja oralmente seja por escrito a boa-nova. Pessoas que, acreditando em tudo o que tinham visto e ouvido, anunciam e testemunham a outros com alegria e entusiasmo” (193). Nesse discernimento pedagógico dos primeiros mestres do cristianismo está a raiz da ação missionária que sempre impulsionou a Igreja no mundo. E que chegou até nós.
O que urge praticarmos na ação evangelizadora é a pedagogia do diálogo. Não há como expandir uma ideia, uma prática, uma crença qualquer sem nos abrirmos para o outro, sem a expansão do diálogo, da troca de ideias, da comunhão fraterna. Cristão fechado em si mesmo nada aprendeu do seu mestre e nada irá ensinar ao outro. “A disposição de Jesus em ouvir os pedidos, os relatos de dor e sofrimento, as perguntas, é sinal de uma pedagogia em que o ensino está associado inteiramente ao reconhecimento do outro como pessoa capaz de compreender e de agir iluminado por uma nova luz” (204). Em Veritatis Gaudium Papa Francisco nos lembra que na ação missionária deve existir “o diálogo sem reservas: não como mera atitude tática, mas como a exigência intrínseca para fazer experiência comunitária da alegria da Verdade e aprofundar o seu significado e implicações praticas”.
Educar na fé é também educar para o belo, o bom e o verdadeiro. O Criador, num hiato de seu tempo eterno, no hoje, ontem e sempre de seu existir, um dia contemplou sua obra com seus olhos amorosos e “viu que tudo era bom”, que tudo era belo. “Diante da beleza, o ser humano se sente encantado. Tudo o que é belo tem a força de atrair e suscitar estupor e maravilhamento” (210). A vida é uma contínua revelação do belo. Santo Agostinho dizia: “Ora, toda obra da natureza, seja ela a última, a ínfima, é digna de elogio em comparação ao nada”. Ao nada que somos diante de Deus. “A educação, tarefa da família, das instituições educativas e de toda a sociedade, poderá enriquecer-se de maneira notável se se abrir ao sentido do belo, do verdadeiro e do bom” (213). O nada que pensamos ser torna-se tudo diante de Deus, razão de sua obra.
O belo foi ofuscado pela prepotência humana. A criatura quis usurpar o senhorio de Deus. O pecado desprezou o Paraíso. Todavia, em Jesus Cristo, restauramos nossa capacidade de vencer todo tipo de mal, o pecado e a morte. “Bela é a obra do universo criado. Mais belo ainda deve ser seu Autor” (216).
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]