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Diocese de Assis

 

          A cena de um agricultor a arar um campo, nos dias de hoje, nos remete automaticamente à figura de um tratorista seguindo sua trilha de terra tombada, a olhar simultaneamente para o resultado de seu trabalho e para o que resta à sua frente. Sua tecnologia o obriga a olhar para a frente e para trás. Estaria em contradição com o ensinamento de Jesus? Os tempos modernos nos obrigam a uma visão mais ampla de nossas ações.

          Não olhar para trás é muito mais uma atitude de disposição do que ação, desempenho, disponibilidade! Significa que quem se dispõe a um serviço não pode estacionar nas dúvidas de seus desafios. Antes, é preciso ânimo e coragem para leva-los até o fim. Essa é a mensagem primeira de Cristo a seus operários. Não fiquem estacionados nas dificuldades e na incerteza de que serão capazes, mas levem adiante o desafio de uma tarefa aparentemente árdua. Confiem na própria capacidade.

          Passo a passo, hora a hora, o trabalho árduo vai se concluindo sem que nos demos conta de sua grandiosidade. Ao fim do dia teremos feito mais do que julgávamos possível. Não há porque duvidar, mas acreditar que somos capazes de muito. O desempenho de um desafio depende da coragem de leva-lo a termo. Na obra da evangelização deve ser assim. Olhar sempre à frente, pois o resultado lento, mas eficaz, virá ao final de tudo.

          “Quem põe a mão no arado” conta com a força motriz da própria fé, essa que nos ajuda a vencer qualquer desafio. A prioridade é a ação, a urgência da tarefa, que não deixa pra depois a missão que nos foi proposta. No caso, o seguimento ao Cristo, o aprendizado lento, mas eficaz, de nossas possibilidades no desempenho da nossa ação evangelizadora. Não há contornos, desvios, interferências mirabolantes (fogo do céu) quando o que se tem é uma obra grandiosa e perfeita, como essa que nos propõe Jesus em sua seara. “O Filho do homem não tem onde repousar a cabeça”. Não descansa na ação. Vai em frente sempre, pois sabe da urgência que a tarefa recebida do Pai lhe exige. Sem outras alternativas senão seu suor e sacrifício, seu sangue derramado. Assim também a missão dos que pretendem seguir seus passos, seus exemplos. Assim a missão da Igreja. Sem avaliações apressadas, sem passos hesitantes, sem paradas desnecessárias, mas determinação sempre. “Deixar os mortos”, os indecisos, os titubeantes e anunciar… Anunciar sempre, sem tréguas, sem intervalos, sem medo…

          Essa visão de um trabalho ininterrupto é a razão da vida missionária. Dia e noite, à luz da graça divina e sob as trevas das tentações mundanas. O Reino de Deus se constrói dentro da realidade desafiadora do mundo. Os desafios das raposas de tocaia, dos campos inférteis e pedregosos, dos terrenos insalubres, da aridez dos desertos, isso tudo se transforma com a persistência do agricultor, aquele que trabalha a terra incansavelmente. Não olhe para trás! Lance a semente sempre! Pois o milagre da colheita virá ao final dos tempos. Ao operário compete o trabalho, ao dono da vinha, a colheita!

          Essa aptidão quem nos dá é o Senhor da Vinha. Nada é mérito pessoal em se tratando de vida missionária. Não fomos nós que decidimos aceitar tão grandioso serviço, mas foi Deus quem nos escolheu e capacitou para sua obra. Então não temos porque duvidar dessa capacidade presente em nós, apesar de nossa insignificância, nossas fraquezas, nossa insegurança diante de tudo. “Antes do seu nascimento, eu já te havia escolhido e consagrado para a missão”, ouviu de Deus o profeta Jeremias, aquele que foi escolhido ainda dentro do ventre da própria mãe. Assim também nós, profetas dos dias atuais. Não olhe para trás, mas para os dias melhores que nos aguardam. Porque tempos melhores virão!

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]