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Diocese de Assis

 

          Quando uma criação ou invenção que seja cai no domínio público, é usada e dominada por todos, dizemos que esta não tem dono, o seu uso e abuso é direito de todos. Assim também a vida. Pelo uso que dela fazemos, pelo domínio ou não que dela temos, podemos dizer que nos pertence, que somos senhores e diretores dos eventuais rumos que esta possa seguir. Mas, quem a criou pensaria assim? Seria esse seu projeto para conosco, deixando-nos ao Deus dará, jogados à sorte de um futuro às cegas, sem rumo certo, sem domínio sobre nós?

          Será que o Criador abandonou sua obra, abriu mão de sua paternidade? A história diz que não. Tantas e tantas  vezes nosso Pai criador reivindicou seus direitos sobre nós, se fez um conosco, mostrando-nos o caminho certo, dando-nos pistas para solucionar nossos dilemas, acertando nossos passos com sua vontade, que seu sobrenome nos soa como Misericórdia, Redentor, Providente, Generoso ou simplesmente Amor. Eis o Pai que temos. O Pai de todos, Pai Nosso!

          Mesmo assim, diante da petulância de nos dizermos donos do nosso nariz, Ele nos deixa livres. Tal qual brinquedo predileto em suas mãos, recarrega nossas pilhas de quando em quando e nos devolve ao mundo. Foi o que fez pessoalmente ao nos enviar seu Filho, ao escrever a mais bela e contundente história de Redenção durante os 33 anos de “tentativa de conserto” mais radical da história humana. Reivindicou para si sua paternidade universal. Chamou-nos de filhos, filhinhos, amados, queridos, irmãos… E nos ensinou a rezar: “Pai-Nosso”…  Não mais “meu” ou “seu”, mas “nosso”, de todos, independentemente de sua raça, credo, cor ou o que seja… Deus é Pai de todos!

          Esse detalhe da oração que “O Senhor nos ensinou” é o grande trunfo da harmonia e da paz universal. Um detalhe que nos foge em momentos de crise, guerra ou conflitos universais, quando nossa irmandade deveria ser posta acima de tudo e de todos, para gaudio e proteção do Pai que temos em comum. “Portanto, eu vos digo, pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto” (Lc 11, 9). Ora, se essa é a promessa, se a solução para tantos conflitos e dilemas que nossa história repetidamente escreve está aqui, porque vacilamos? Ora que melhora, muitos dizem. Mas poucos, pouquíssimos praticam. Não é apenas uma questão de credo, de atenção à realidade espiritual que vivemos, mas desleixo, preguiça, incompetência mesmo. O mundo vai mal porque nós, cristãos, estamos péssimos. Deixamos de lado a força que temos para transformar o mundo com nossa presença, nossa ação e oração. É isso.

          Então, se você é daqueles que dizem: “Quanto mais rezo, mais o Diabo aparece”, parabéns! Sua oração está fazendo efeito. Continue, pois é função do ato de orar também provocar uma reação do Inimigo. Sinal de que nosso diálogo com Deus causa inveja. Sorria o sorriso da graça alcançada, segure firme nas mãos de Deus e vá em frente! O Pai está te ouvindo…

Mais que simples instrumento de reivindicações, das constantes solicitações que temos a fazer, a oração é também uma conversa franca, um diálogo permanente que nos mantêm unidos a Deus. É o abandono certeiro e confiante de quem ama e se deixa amar pela força protetora Daquele que nos deu tudo o que temos e somos. Por isso, digamos: “Aba, Pai!”.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]