Diocese de Assis
Pobre do homem que acumula só para si. Verdade nua e crua. Frase curta e dura. A cegueira e a surdez de muitos ainda não atinaram para essa triste realidade humana, que muitos preferem ignorar: daqui nada se leva. Pois das muitas lições que a pregação de Jesus abordou com clareza e objetividade, a questão da avareza foi sempre retomada com primor. Senão, veja ao menos essa: “Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12,15). Consiste em que, então?
A pergunta é fatal e curiosa. Todos um dia a fazem a si mesmos. Afinal, porque tanto suor, esforços, sacrifícios, quando daqui sairemos com as mãos abanando? Ricos e pobres, grandes empreendedores ou pequenos investidores, um dia hão de topar com essa questão em suas vidas. Alguns desaceleram suas buscas, outros agem como o avestruz que, quando ameaçados, escondem a cabeça numa grota qualquer, outros ainda amealham com mais avidez, como se suas conquistas e bens terrenos fossem as únicas garantias de uma segurança pessoal. Enfim, cada qual à sua maneira, fazem dos bens terrenos um escudo invisível para algo que desconhecem, mas temem, a própria morte.
Jesus dá o xeque mate: “Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?”
Mesmo assim, não é bom abordar esse tema sem uma visão mais positiva. A questão não é o acumulo pessoal, a riqueza adquirida sem os critérios do bom uso que dela se possa extrair, da função social bem administrada e partilhada, da divisão justa e criteriosa dos bons empreendimentos que geram riquezas e bem estar, renda e segurança alimentar a incontáveis trabalhadores. Essas riquezas têm outro nome: prosperidade. Feliz o homem próspero, que constrói não para si, mas para muitos, que faz de seus bens uma fonte de vida e garantia de sobrevivência para todos que dele se acerquem. Esse não reserva para seus dias finais, mas para sua eternidade.
Nesse aspecto, a visão da Igreja não é contraditória em sua defesa a favor do pobre, o injustiçado na cadeia alimentar e social, mas com ele faz coro ao pregar justiça na distribuição de rendas e condições de trabalho mais coerentes com a dignidade humana. Muitos gritam: isso é comunismo! Mas antes dessas ideologias tolas e contraditórias que inventamos, o que seria? No tempo de Jesus o regime totalitário e dominador do Império visava apenas domínios territoriais. O povo era uma massa de manobra circunstancial, útil somente na construção de poder e glória de seus dominadores. Jesus era somente uma voz a clamar. Diferente de nossos dias? Não, claro que não!
Então ouçamos sua voz, a voz de sua Igreja. Se hoje suavizamos a fala com pedido de perdão das muitas injustiças culturais e históricas que Igreja e Estado um dia cometeram (Papa Francisco pediu perdão pelo genocídio cultural cometido contra povos indígenas, em especial no Canadá) na América Latina a opção preferencial pelos pobres também criou situações de exclusão. Sabemos hoje que “pobreza espiritual” também merece nossos cuidados. Sabemos hoje que há muitos pobres necessitados de atenção e orientação espiritual, pois que não sabem o que fazer com suas riquezas de ordem material. E muitos ricos de ordem espiritual que não partilham seus bens espirituais com aqueles que só acumulam riquezas temporais. Pobres ricos e ricos pobres… Ou pobres pobres e ricos ricos…
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]