Diocese de Assis
A ORIGINALIDADE DA FÉ CRISTÃ: TERRENO SEGURO
Do ponto de vista teológico, religioso e eclesial o cristianismo nasce do MISTÉRIO PASCAL, isto é: do mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Um acontecimento real, mas, que necessita do olhar da fé uma vez que não usa medidas numéricas, lógicas ou matemáticas.
A medida da fé é toda a História da Salvação com as insondáveis ações de Deus sobre a humanidade. A medida da fé são todos os patriarcas e matriarcas; são todos os profetas e profetisas. A medida da fé é a casa de Israel; é José e Maria; é Jesus e os apóstolos. A medida da fé é, enfim, o pequeno núcleo de cristãos que, de clandestino e combatido pelo império foi se espalhando como “semente do evangelho”.
O livro dos Atos dos Apóstolos apresenta três retratos da comunidade cristã nas suas origens e desenvolvimento:
Primeiro retrato da comunidade (Atos 2,42-47): “Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações. Em todos eles havia temor, por causa dos numerosos prodígios e sinais que os apóstolos realizavam. Todos os que abraçaram a fé eram unidos e colocavam em comum todas as coisas; vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um. Diariamente, todos juntos freqüentavam o Templo e nas casas partiam o pão, tomando alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. E a cada dia o Senhor acrescentava à comunidade outras pessoas que iam aceitando a salvação.”
Segundo retrato da comunidade (At 4,32-37): “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava propriedade particular as coisas que possuía, mas tudo era posto em comum entre eles. Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus. E todos eles gozavam de grande aceitação. Entre eles ninguém passava necessidade, pois aqueles que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro e o colocavam aos pés dos apóstolos; depois, ele era distribuído a cada um conforme a sua necessidade. Foi assim que procedeu José, levita nascido em Chipre, apelidado pelos apóstolos com o nome de Barnabé, que significa “filho da exortação”. Ele vendeu o campo que possuía, trouxe o dinheiro e o colocou aos pés dos apóstolos.
Terceiro retrato da comunidade (Atos 5,12-16): “Muitos sinais e prodígios eram realizados entre o povo pelas mãos dos apóstolos. E todos os fiéis se reuniam em grupo no Pórtico de Salomão. Os outros não se atreviam a juntar-se a eles, mas o povo os elogiava muito. Uma multidão cada vez maior de homens e mulheres aderia ao Senhor, pela fé. Chegaram ao ponto de transportar doentes para as praças, em esteiras e camas, para que Pedro, ao passar, pelo menos a sua sombra cobrisse alguns deles. A multidão vinha até das cidades vizinhas de Jerusalém, trazendo doentes e pessoas tomadas por espíritos maus. E todos eram curados.
A originalidade da fé cristã consiste exatamente nisso: uma profunda experiência do RESSUSCITADO que ecoa na vida de pessoas concretas, através de gestos e ações concretas de amor. E é, precisamente isso, o que atrai as pessoas para uma vida em Comum-União’; para uma vida em COMUNIDADE.
O Fenômeno de crescimento e expansão da fé cristã não está, simplesmente, na associação das pessoas em torno dos apóstolos e, nem tão pouco, nos seus gestos e ações. Tal associação, tais gestos e ações estariam desprovidos de poder se não estivessem garantidos e amparados pela Ressurreição de Jesus e pela ação do Espírito Santo.
Formar comunidade cristã, portanto, não é simplesmente reunir pessoas e realizar gestos e ações. Formar comunidade cristã é estar convocado pelo Cristo Ressuscitado e viver confirmado pelo Espírito Santo. Que ninguém atribua a si mesmo esta honra!
PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS