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Diocese de Assis

 

          Em tempos de mudanças e expectativas, como em qualquer final de ano, o coração humano se enche de planos e sonhos renovados. Natural e positivo tal comportamento. Como também natural e positiva a renovação espiritual daqueles que acreditam na força interior de suas opções religiosas. Especialmente para aqueles que vivem uma espiritualidade encarnada e conflitante com o mundo. Um mundo cada dia mais agnóstico.

          Posto esse cenário, vem a questão: Como viver a fé em meio à descrença de muitos? Para nós, cristãos, essa é nossa prova dos nove, ou seja, o destemor e a alegria devem ser nossas características primeiras. Desafiar o mundo com espadas ou ironias não são armas apropriadas para quem se diz (ou ao menos tenta ser) um emissário da Paz que vem do alto. As armas do cristão são suas mãos vazias, estendidas na ação de solidariedade com o próximo ou unidas em louvor constante às dádivas que vem dos céus. Mãos que se usam na ação e na oração.  Não nos competem os argumentos da força, da coação, da discórdia, da violência ou do ódio, comuns entre aqueles que ignoram os princípios básicos da fraternidade que sonhamos. Se o mundo rejeita esse caminho, lembra-nos que por primeiro já rejeitou aquele que se fez o Caminho, Verdade e Vida. Mas Ele está voltando…

          Por uma dessas ironias que a realidade aparentemente oposta faz aos princípios da fé cristã, um irmão missionário escreveu-me o seguinte texto, nesta semana: “Já vi jovens usando camisetas com a mensagem ‘Lúcifer está voltando’. Se existir blasfêmia maior contra Deus, essa é uma delas”. Obrigado Adroaldo. O pior não é o anúncio de uma possível e gloriosa volta demoníaca, pois esta acontece deste o princípio da nossa história. Lúcifer sempre esteve conosco, nunca nos deixou. Essa é a verdade. Mas também é verdade que sua ação no mundo se intensifica de quando em vez. Como nos dias atuais. Lúcifer está deitando e rolando entre nós. E, por certo, dando boas e terríveis gargalhadas.

          Todavia, o Advento cristão renova nossas esperanças. Contemplar um Cristo menino numa manjedoura é alimentar as expectativas de um mundo melhor à luz das promessas de Deus. É contemplar a simplicidade e a grandiosidade da Promessa. E essa também é textual em nossas vidas: “Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo… e o seu reino não terá fim” (Lc 1, 32-33). Não há o que temer diante da solidez dessa promessa. Não só nos dá certezas de vitória, como também enche nossos corações de alegrias e esperanças redobradas. “Ainda um pouco de tempo, e já me não vereis; e depois mais um pouco de tempo e me tornareis a ver”. (Jo 16,16). Não podemos limitar esse espaço de espera ao tempo já passado (em especial aqueles três dias de morte e ressurreição), nem à promessa de “um advogado” o paráclito a defender nossas causas, mas também e principalmente à sua volta gloriosa “a julgar os vivos e os mortos”, a fazer a justiça que almejamos com ansiedade…

          Então a injusta perseguição, incompreensão, intolerância e cinismo do mundo contra os princípios cristãos cairá por terra. Porque fomos resgatados ao preço da dor. Porque “outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: comportai-vos como verdadeiras luzes” (Ef 5,8). Porque, mesmo diante de uma realidade antagônica ao que imaginamos e sonhamos ou à aparente decepção humana diante da Criação divina, aquela em que Ele só viu perfeição, nossa esperança ainda é maior e mais sólida. O caos nunca existirá para quem espera e confia. Porque Ele voltará triunfante, num novo Natal de luzes. E seu Reino não terá fim.

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]