Diocese de Assis
Muitos há por aí ansiosos em mudar o mundo. Outros a questionar a obra da Criação, como se o Criador mil erros tivesse cometido. Outros ainda a se por como deuses e traçar outros rumos, mais objetivos, perfeitos, sem os males da convivência humana, sem as agruras do trabalho pela sobrevivência ou das dores e provações de uma existência precária, transitória, fugaz. Por que a morte, doenças e fome? Por que tantas privações a pontear uma vida? Por que isso, por que aquilo? Todos, enfim, teriam seu dedinho de participação num projeto criativo bem mais ditoso e perfeito do que este que nos circunda e do qual bem conhecemos suas mazelas e defeitos tantos.
Bem nos disse o escritor brasileiro Monteiro Lobato, aquele criador de tantas e tantas aventuras num sítio onde reinava um Narizinho atrevido e uma boneca cheia de ideias novas e fantasias mirabolantes. Onde Pedrinho era tão somente um diminutivo de muitos Pedros, Joões e Marias que povoam as aventuras desse mundo encantado que denominamos casa comum. Nesse sítio morava Américo, que tinha o hábito de por defeito em tudo. Não é que até num pomar paradisíaco percebeu algo errado. Onde já se viu tamanha contradição da natureza, como aquela que observou numa plantação de abóboras e num pé de jabuticabas. Por que uma árvore tão frondosa a produzir frutos tão pequeninos enquanto uma planta rasteira e frágil produzia enormes abóboras, que se misturavam ao pó da terra? Não seria mais lógico abóboras em árvores e jabuticabas à rês do chão? Assim aquele Américo que pensava ter descoberto a América, deitou-se à sombra da frondosa jabuticabeira, sonhando com outras mudanças no curso da Natureza.
Eis que, de repente, uma pequena jabuticaba lhe cai no rosto. Desperto de seus projetos inovadores, suspirou dizendo: “Ainda bem que não foi uma abóbora. Pois se o mundo fosse arrumado por mim a primeira vítima teria sido eu. Eu, Américo Pisca-Pisca (era esse seu apelido), morto pela abóbora por mim posta no lugar da jabuticaba? Hum! Deixemo-nos de reformas. Fique tudo como está, que está tudo muito bem”.
A lição lobatiana nos remete aos abusivos projetos de muitos, quando colocados acima e adiante do projeto inicial de Deus. O ato da criação foi perfeito e continua sendo em todos os seus nuances, objetivos e projeções no tempo e no espaço estipulados por Ele. A Perfeição do que é Divino não aceita remendos, nem mudanças, nem implantes. “Deus viu que tudo era bom!” Então, como ficamos? Nossa participação nesse projeto é de continuidade, de aprimoramento para tudo aquilo que nos conduza à vida, aperfeiçoe e aumente nossas expectativas de vida, aumente nossos conhecimentos e definições de sua plenitude, nunca da morte e sua finitude. Projetos de vida ignoram e se contrapõe aos projetos de morte. Vida é graça, dádiva divina. Morte é pecado, cegueira humana. Portanto, se desejarmos a continuidade desta, a perpetuação de nossa história como frutos semeados num Paraíso, cada qual a seu tempo e em seu lugar, não podemos enxertar nossa existência fora do projeto inicial que Deus nos traçou. Cada um com sua história e no seu próprio espaço. Como abóboras ou jabuticabas, grandiosos frutos em rama frágil ou pequenos e saborosos frutos em árvores frondosas. Não importa. Todos aqui estamos para realizar um projeto perfeito, um plano existencial agradável a Deus e aos olhos Dele, nunca dos homens. Faça sua parte. Esqueça as ilusões facciosas daqueles que querem mudar o mundo, mas não se aceitam como realmente são. Não aceite enxertos em sua vida. Siga os Planos de Deus para si. Seja você uma abóbora maravilhosa ou uma jabuticaba tenra e doce.
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]