Diocese de Assis
Alimentar um povo não é só lhe oferecer o pão, o básico para sua sobrevivência. Isso é relativamente fácil, basta vontade e compaixão. Há porém uma outra forma de alimento, também essencial, que fortalece o espírito humano com a solidariedade necessária para uma convivência harmoniosa: é o alimento da verdade, aquele que nutre corpo e alma e dá à vida um novo sentido. Aqui nos deparamos com os mistérios e as necessidades vitais que todo ser humano tenta compreender e alimentar no seu dia-a-dia. Alimentar-se com o pão da terra e também o pão do céu, aquele que a graça de Deus derramou no deserto… “Os discípulos de Jesus são formados para a confiança na graça de Deus, que alimenta uma multidão mesmo quando os recursos à disposição sejam aparentemente insuficientes” (CF 142).
Eucaristia é o nome do milagre! “Não só de pão vive o homem – disse Jesus – mas de toda a palavra..” E no banquete eucarístico Ele foi enfático ao proclamar: “Isto é o meu corpo”. Não usou palavras dúbias para associar a fome humana às necessidades espirituais e ao mistério presente naquela mesa. “Jesus, assim, acresce ao compromisso de repartir e distribuir a Eucaristia a responsabilidade pela fome dos irmãos, o comprometimento sobre as necessidades mútuas” (144). Magistralmente, hoje Ele nos diz: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 5,34). Outra não é esta obra senão a construção da fraternidade universal. Alimentar esse povo é nossa responsabilidade social. Então nossos bispos enfatizam: “Hoje, a Igreja precisa relembrar às comunidades contemporâneas que a celebração da Eucaristia não nos faz uma comunidade de eleitos, separados do restante do mundo, premiados com uma realidade sublime, mas nos transforma em pessoas incumbidas da missão dada por Jesus” (146).
Sem compaixão não pode haver cristianismo. Sem essa visão que emana da mesa eucarística, nossa comunhão com Cristo é incompleta. “Na Eucaristia recebemos Cristo que tem fome no mundo” (153). Essa relação está intimamente ligada à ação da Igreja, pois dela derivam atos e atitudes que diferenciam um gesto cristão de qualquer gesto político. Bem nos disse Papa Francisco em uma de suas exortações: “é nocivo e ideológico também o erro das pessoas que vivem suspeitando do compromisso social dos outros, considerando-o algo de superficial, mundano, secularizado, imanentista, comunista, populista; ou então relativizam-no como se houvesse outras coisas mais importantes” (G.E.) A vida eucarística do povo de Deus é o rótulo que nos identifica como irmãos, sem as divisões toscas e oportunistas que hoje nos impingem. Só se sacia o faminto com o pão da Verdade, quando por primeiro lhe oferecemos o pão de cada dia. Não há outro caminho. “Não podes comer este Pão, se não deres o pão aos famintos” (154).
Assim chegamos ao final das reflexões de mais uma oportuna Campanha da Fraternidade a coroar nosso período quaresmal. Nossos bispos foram mais uma vez zelosos guardiões de sua missão apostólica. Sobra-nos a ação “para transformar a realidade da fome”. O maná do deserto renovou as forças do povo de Deus para alcançar a Terra Prometida. Jesus se apresentou como novo maná, o pão-vivo também descido do céu. Eis o caminho da libertação, as pistas necessárias que a doutrina cristã oferece ao mundo, conclamando todos à responsabilidade social. “Dai-lhes vós mesmos de comer”. E pontifica: “O motor do nosso agir não é outro senão a mística do Seguimento de Jesus” (158). Outro nome não há. Senhor, tenha compaixão!
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]