Diocese de Assis
A quaresma é uma ótima oportunidade de mudança e conversão que redundam em crescimento humano em vários sentidos. Mas há uma coisa que, na quaresma, podemos fazer de maneira mais profunda: a busca de sentido para a vida, justamente em meio a fragmentação dos valores e a perda de sentido.
Não podemos esperar atitudes surpreendentes, comportamentos surpreendentes, decisões surpreendentes, projetos surpreendentes ou qualquer outra coisa surpreendente de quem ousa perpetuar as mesmas idéias simplistas sobre os acontecimentos, sobre os momentos, sobre os tempos e sobre a vida.
A Quaresma está ai! Não é uma mera invenção humana e nem um artifício religioso. Pelo contrário, é uma necessidade existencial que está inscrita no coração da humanidade que é o encontro consigo mesmo.
Apesar de ser uma “instituição” da Igreja Católica, a Quaresma nasceu com o homem. Portanto é de cada um de nós. A Igreja não é a dona, mas tem uma missão milenar de Mãe e Mestra para ler, interpretar e ritualizar este itinerário que compete à vida humana.
Temos e guardamos muitas idéias sobre tudo na vida. Contraditório ou não, quase sempre, sabemos muito pouco sobre a vida, porque sabemos muito pouco sobre nós mesmos. A questão básica é que, estamos ocupados com tudo neste mundo: trabalho, família, dívida, escola, crise…, menos conosco. Dia por dia, estamos nos desocupando cada vez mais de nós mesmos e, isso é mal.
Aonde queremos chegar? O que queremos provar?
A sombra do egoísmo nos transformou em maus altruístas. Tentamos cuidar muito bem dos outros, mas não cuidamos de nós mesmos. Isso é contraditório! Ninguém pode cuidar bem dos outros quando não cuida bem de si mesmo; ninguém respeita aos outros, quando não respeita a si mesmo; ninguém é fiel aos outros quando não é fiel a si mesmo; ninguém pode amar os outros quando não ama a si mesmo.
Precisamos nos libertar da falsa idéia de que o cuidado conosco mesmo é sintoma de egoísmo. O cuidado consigo é um dos princípios bíblicos mais genuínos do amor verdadeiro.
A busca de si mesmo! Este é o ideal perdido, numa sociedade liberal que promoveu o altruísmo, mas, não fez emergir a fraternidade; que suscitou desejos e necessidades, mas, não satisfez a fome; que criou o individualismo, mas, não fez nascer indivíduos que são sujeitos.
Será que o mundo nos conhece como gente, como pessoas, como humanos?
Fomos convertidos em número, em cifra, em estatística. Mas, nós somos gente. Precisamos fazer a volta sem revolta; precisamos de conversão sem inversão; precisamos de nós mesmos.
Devemos buscar não apenas a explicação para guardar os quarenta dias da quaresma, mas a motivação.
Quarenta anos o Povo de Deus comeu o `maná no deserto (Ex 16,35; Nm 14,33). Moisés ficou sobre a montanha do Sinai, quarenta dias e quarenta noites (Ex 24,18; Dt 9,9). Quarenta dias e quarenta noites choveu sobre a terra, formando o dilúvio (Gn 7,4). Um aviso foi dado: “Dentro de quarenta dias, se não se converterem, Nínive será destruída” (Jn 3,4). Por quarenta dias e quarenta noites, Jesus esteve jejuando no deserto (Mt 4,1-11; Mc 1,12-13; Lc 4,1-13). E você!?
O número quarenta deixa de ser um simples número, uma seqüência numérica para ser um evento existencial necessário e indispensável. Será que vamos desprezar mais esta nova chance? Ainda dá tempo!
Vamos viver os nossos “quarenta dias”.
PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS