Diocese de Assis
A aventura da vida nos leva, muitas vezes, a menosprezar perigos e desdenhar valores que Deus depositou em nós. Conduzimos nossas existências com a adrenalina em constante alta, como se aqui estivéssemos tão somente para mostrar nossa coragem e desafiar nossos limites. Fazemos de nossas vidas uma eterna competição com os semelhantes e uma constante queda de braços com os desafios que a natureza nos coloca. De repente nos surpreendemos com perguntas sem respostas. O que aqueles cinco aventureiros foram bisbilhotar no fundo do oceano, ao lado dos destroços do maior desastre náutico que nossa história já testemunhou? Não é o Titanic, o até então maior navio do mundo, cuja tripulação ironizou o poder divino (Nem Deus afunda esse navio!), símbolo inconteste da prepotência humana? Desafiar o perigo é pôr à prova o ilusório poder humano em confronto com as leis divinas. Nenhum passarinho “cai por terra sem a vontade do nosso Pai”, está escrito. E registrado: “Bem mais que os pássaros valeis vós” (Mt 10,31).
Nesta questão de valores inventamos uma bolsa, uma maneira de pesar e medir os recursos que temos, sem, no entanto, considerar o lastro da vontade de Deus. Essa, sim, impõe limites, traça regras, freia a audácia humana de se achar senhor e diretor da vida e dos desafios que ela nos apresenta. Quem é capaz de recriar uma existência diante da fatalidade da morte? Quem, senão o Criador, conhece a capsula que nos envolve neste mundo e nos fornece condições para bem explorar a profundidade e os limites do espaço que aqui ocupamos? O bom senso e o instinto de sobrevivência falam mais alto do que nossos ideais de conquistas e aventuras desafiadoras. É preciso redimensionar nossos sonhos e projetos de grandeza, se quisermos manter nossos pés no chão da realidade que nos cerca. O episódio acima é apenas um pequeno exemplo daquilo que a humanidade está atraindo para si quando longe do bom senso e da cautela que a fé e esperança em Deus nos ensina a valorizar. A vida tem limites. Só a fé é capaz de superá-los. Mas essa exige o lastro do testemunho diante dos homens: acreditar; nunca desafiar!
Não é o que constatamos em muitas das circunstâncias que envolvem nossas vidas. A pessoa de fé sabe das capacidades infinitas que tem para vencer desafios, superar os eventuais problemas, buscar soluções positivas baseadas na proteção “dos céus”, nunca na contemplação inerte dos “desastres” que cercam nossa história e nossa prepotência tipicamente humana. A pessoa de fé acredita na proteção divina, mas nem por isso irá desafiar os limites da lógica e do bom senso. Muito menos desafiar Deus. Não é uma questão de poderes ou imposição de limites para a capacidade sempre desafiadora que temos ao explorar nosso mundo, nosso universo. Deus não impede essa qualidade operante das ações humanas. Exatamente nela é que reside o progresso, o crescimento, o aprimoramento da nossa evolução. O que não podemos é negar a força criativa que nos trouxe até aqui e nos mostra sempre o caminho do respeito e da coerência que só a fé é capaz de respeitar. Quem nega isso, rejeita Deus e sua proteção.
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]