Diocese de Assis
Quando Jesus nos desafia a semear a boa semente, confia nos critérios do nosso trabalho. Sem arrogância, sem alardes, sem orgulho pessoal, mas com as responsabilidades de um trabalho bem feito. Sobretudo, acreditando que a obra da semeadura de Deus nunca será mérito nosso, mas propriedade exclusiva do Senhor da Messe, aquele que colhe os frutos do nosso trabalho evangelizador. O plantio é tarefa nossa, mas a colheita é daquele que nos forneceu as sementes… Portanto, no trabalho evangelizador somos meros figurantes. “O campo é o mundo; a colheita é o fim dos tempos; os ceifeiros são os anjos”…
Só não podemos deixar de semear, fazer nossa parte com os critérios da responsabilidade missionária que o batismo nos concedeu e nos obriga a exercer. Não há outro caminho para a prática de uma fé coerente. Ou evangelizamos, ou evangelizamos… O cristão está fadado a uma atuação permanente com a obra da semeadura divina, posto que a simples presença no meio em que vivemos provoca (ou deveria provocar) questionamentos, faz crescer a massa, levedar o fermento, brotar sementes de fé e esperança. Esse é o milagre que o Reino dos Céus provoca em nós. Por isso, a simplicidade das parábolas do Reino nos desaloja de um comodismo pessoal e nos envia como missionários (emissores, porta-vozes) de uma mensagem transformadora.
Foi o que me aconteceu quando assumi essa identidade missionária, esse trabalho aparentemente grandioso, mas extenuante e pouco compensatório se considerarmos a não contemplação dos frutos. Semeia-se, mas nada colhemos. Essa safra não é nossa. Os frutos não nos pertencem. Pois, bem! Em 1981 iniciei nova caminhada em minha vida, como leigo missionário. Minha estreia se deu na diocese de Jacarezinho – PR, onde lancei meu primeiro livro (Dona Vida….) numa cerimônia bastante concorrida dentro de uma catedral lotada. Preparei com muito esmero o “discurso” daquela cerimônia. O padre que me recepcionava havia feito um bom trabalho de divulgação para aquele momento. Durante o trajeto até aquela cidade, fui repetindo tudo o que havia escrito em várias laudas datilografadas, com a Célia, minha esposa, corrigindo eventuais desvios do texto. Haveria de agradar, pensava! Mas, ao contemplar aquele público imenso, tremi na base. Suspirei fundo, ordenei pacientemente aquele calhamaço sobre o pedestal de leitura, contemplei a igreja lotada e iniciei minha leitura. Tudo ia razoavelmente bem, até que uma alma generosa percebeu o calor do ambiente e… ligou os ventiladores!
Imaginem a cena. Voou papel para todo lado. Por mais que meu desespero gritasse socorro, não pude impedir a revoada do meu “discurso”. Alguém tentou recuperá-lo, mas a ordem daquelas páginas já estava desfeita. Foi quando resolvi continuar sem o lastro de um texto preparado com critérios. Deixei falar meu coração. O improviso ganhou nexo. As palavras fluíam aos borbotões. O testemunho, a alegria, a descoberta de que ali estava não por vaidade pura e simples, mas para desempenhar uma missão sagrada, transformaram minhas palavras. Senti que tinha um público em minhas mãos e que o testemunho que lhes dava era coerente com minhas fragilidades e limitações, não com minhas aparências e dons intelectuais. Consegui aplausos. Não para minha oratória, nem para meus escritos, mas para Aquele que falou por mim.
Ao final, Pe. Zakir me abraçou com emoção, e sussurrou nos meus ouvidos: Ainda bem que ligaram os ventiladores!
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]