Diocese de Assis
Quantas vezes descobrimos um lugar ameno e aprazível e ali desejamos ficar por mais tempo? Ou a companhia de uma pessoa agradável cuja presença é capaz de nos fazer esquecer o tempo, qualquer outro compromisso ou atividade, para simplesmente aproveitarmos ao máximo a sua companhia? Diria até serem raros esses momentos no afã diário em que hoje vivemos. Mas são acontecimentos pelos quais todos passamos ou passaremos apesar de tudo. Momentos como daqueles apóstolos que um dia subiram uma alta montanha e lá contemplaram a verdadeira face de quem os convidou para aquele passeio. Jesus se revelou transfigurado, com o rosto brilhante e as vestes revestidas de luz. A visão, ao lado de Moisés e Elias, foi um momento de revelação tão grandioso que os três acompanhantes desejaram acampar por lá mesmo, não mais voltar para a realidade de um mundo sempre atribulado e sem a compreensão dos mistérios e da preciosidade que cercava a vida daquele Mestre. “Senhor, é bom ficarmos aqui”.
O encontro com a verdade provoca transformações, transfigura a imagem estereotipada que muitas vezes temos de Cristo e sua Igreja. Não é algo que se possa descrever com palavras simples e objetivas, mas uma experiência pessoal, que só o indivíduo em confronto com a crueldade dos homens ou a transitoriedade do mundo é capaz de compreender e assimilar para sempre em sua vida. O encontro e o confronto com a vida espiritual é o grande milagre que uma conversão suada, sincera, reveladora provoca nas pessoas agraciadas com essa revelação. São também elas transfiguradas com Cristo. O Amor ali presente é capaz de repetir o milagre e transformar a vida de muitos incrédulos. É o momento de um encontro com Deus.
Na tradição hebraica uma montanha era sempre local da morada de Deus. Por isso os grandes orantes sempre subiam o morro, a montanha. Por isso, Moisés num deles recebeu os mandamentos divinos. E Jesus, seguindo a tradição, sempre buscava um desses locais para se por em sintonia com o Pai. Quando não, ao menos um local ermo, um horto ou mesmo o deserto se constituíam em tabernáculo de oração para nosso Mestre. O importante era o afastamento, isolar-se momentaneamente para melhor sintonia com sua essência espiritual. Eis aqui uma bela lição de como deve ser esse nosso momento de encontro com Deus: construir por primeiro um “afastamento” dos nossos conflitos e tribulações cotidianas, para melhor sintonia com os planos e bênçãos divinas em nossas vidas. A oração comunitária – a que mais facilmente fazemos por força de hábito – tem seu valor de intercessão e unidade – , mas é a oração pessoal, cara a cara, tet a tet , a que melhor preenche nossas carências espirituais. Nesse encontro Jesus se nos apresenta transfigurado e nos encoraja a vencer os grandes desafios que a vida nos apresenta: “Levantai-vos e não tenhais medo”.
Orar, portanto, é subir as montanhas dos nossos dilemas, contemplar o horto das ilusões terrenas, inserir-se no deserto das falsas miragens, isolar-se e esvaziar-se da realidade que sufoca nossas almas, para só então contemplar a face serena e transbordante do Amor verdadeiro. Orar é ouvir a voz de Deus que nos chama e nos clama por reciprocidade: “Este é meu filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado” (Mt 17,5). Como outros cristos no mundo, poderemos também nos transfigurar em filho ou filha diletos do Pai. Basta encontra-lo através da oração. Subir e descer as montanhas que nos separam.
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]