Diocese de Assis
Se existe algo no mundo que seja gerador de graças e bênçãos ao humano que somos, esse algo se chama talento. Ou seja: o espírito criativo do ser humano deriva dos dons e talentos que possui. Nenhum outro animal ou criatura é capaz de criar alternativas, multiplicar bens, gerar soluções, apontar erros ou construir novos caminhos do que o próprio ser humano. Mas isso é graças à sua inteligência, dirá alguém. Exatamente. Essa é nosso maior talento, que nos distingue de todos os demais seres vivos que nos rodeiam. O dom do discernimento é o rótulo diferencial que nos faz soberanos entre todas as demais criaturas do reino, seja este animal, vegetal ou mesmo espiritual. Ah! Existe esse último? Ainda bem que sim…
A vida espiritual nos aponta um Reino em maiúsculo. Infelizmente, por conta da desatenção de muitos para esse detalhe, enterramos os maiores talentos que um dia recebemos gratuitamente e negligenciamos seus bens e benefícios. Deixamos de aproveitar das maiores graças e bênçãos que essa passagem terrena, a vida, oferece generosamente a todo e qualquer “empregado” do Reino de Deus. Por conta e risco dessa negligência humana com o sagrado é que o mundo está como está. Os dons e talentos que nos acompanham desde o berço e que se somam à nossa história ao longo dos anos, não são méritos nossos, mas dádivas divinas, celestiais se você assim preferir. O fato é que nada teríamos e nada seríamos sem o consentimento do Pai, o mesmo que nos criou, que nos concedeu não só a vida, mas também a consciência do respeito a ela, da gratidão por ela.
Fora disso, nossos méritos deixam de ser dádivas, para se tornarem sinais de maldição, de usurpação. Tudo o que amealhamos ou conquistamos sem a unção da fé, sem a gratidão do Senhor que nos concedeu a administração de seus bens “de acordo com a capacidade de cada um”, dia mais, dia menos haveremos de lhe prestar contas. Seremos cobrados não só pela negligência com os bens que nos foram confiados, como igualmente pela malícia de nos apossarmos de bens que não os nossos, de talentos que não nos foram confiados, de dons que nunca possuímos. Aqui encontramos explicações para a fugacidade e inconsistência de riquezas que pensávamos possuir. O servo infiel, oportunista, malandro na arte do engodo, nunca encontrará reconhecimentos diante do patrão providente e justo. “Servo mau e preguiçoso! Tu sabias que eu colho onde não plantei e ceifo onde não semeei?” (Mt 19,26). Tu sabias que diante da ciência divina nenhum subterfúgio é capaz de prosperar? Que enganamos a muitos homens e até à nós mesmos, mas a Deus não se engana? Que nada escapa do Juízo Final? É, o servo mau aqui fica mal…
Então, multiplicar os talentos é muito mais do que questão de sobrevivência. Não somente social, terrena, financeira ou moralmente falando, mas também e principalmente no quesito mais precioso desse latifúndio terreno: o reino espiritual que coroa nossa existência. Nossos dons terrenos, materiais, são esmolas irrisórias diante dos dons mais preciosos que o Patrão lá do alto nos confiou um dia. Esses, sim, deveremos multiplicar cem por um. Essa é a proporcionalidade que nos será cobrada um dia.
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]