Diocese de Assis
As nossas relações podem adquirir diversos contornos de acordo com o grau, a intensidade, a dedicação, o interesse… que lhes dão referência e substrato.
O ideal, sempre, são relações autênticas e profundas que, o tempo não leva ao esquecimento; a distância não enfraquece; as dificuldades não dissolvem e as novas relações e amizades não substituem.
Para lograr êxito, nas relações autênticas e profundas, é preciso investir em reciprocidade, zelo, verdade, cuidado, cultivo, sinceridade e fidelidade.
A amizade com Deus é princípio conversão e mudança.
Uma relação de profunda amizade, com Deus, nos liberta e nos amadurece. E, ainda mais, nos forma para qualquer relação com as pessoas.
Hoje, quero compartilhar, com vocês, um texto do tratado contra as heresias, de Santo Irineu, bispo (século II).
A AMIZADE DE DEUS
Nosso Senhor, o Verbo de Deus, que primeiro atraiu os homens para serem servos de Deus, libertou em seguida os que lhe estavam submissos, como ele próprio, e disse a seus discípulos: “Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. ‘Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai’” (Jo 15,15). A amizade de Deus concede a imortalidade aos que a obtêm.
No princípio, Deus formou Adão, não porque tivesse necessidade do homem, mas para ter alguém que pudesse receber os seus benefícios. De fato, não só antes de Adão, mas antes da criação, o Verbo glorificava seu Pai, permanecendo nele, e era também glorificado pelo Pai, como ele mesmo declara: ‘Pai, glorifica-me com a glória que eu tinha junto de ti antes que o mundo existisse’ (Jo 17,5).
Não foi também por necessitar do nosso serviço que Deus nos mandou segui-lo, mas para dar-nos a salvação. Pois seguir o Salvador é participar da salvação; e seguir a luz é receber a luz.
Quando os homens estão na luz, não são eles que a iluminam, mas são iluminados e tornam-se resplandecentes por ela. Nada lhe proporcionam, mas dela recebem o benefício e a iluminação.
Do mesmo modo, o serviço que prestamos a Deus nada acrescenta a Deus, porque ele não precisa do serviço dos homens. Mas aos que o seguem e servem, Deus concede a vida, a incorruptibilidade e a glória eterna. Ele dá seus benefícios aos que o servem precisamente porque o servem e aos que o seguem precisamente porque o seguem; mas não recebe deles nenhum benefício, porque é rico, perfeito e de nada precisa.
Se Deus requer o serviço dos homens é porque, sendo bom e misericordioso, deseja conceder os seus dons aos que perseveram no seu serviço. Com efeito, Deus de nada precisa, mas o homem é que precisa da comunhão com Deus.
É esta, pois, a glória do homem: perseverar e permanecer no serviço de Deus. Por esse motivo dizia o Senhor a seus discípulos: ‘Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi’ (Jo 15,16), dando assim a entender que não eram eles que o glorificavam seguindo-o, mas, por terem seguido o Filho de Deus, eram por ele glorificados. E disse ainda: ‘Quero que estejam comigo onde eu estiver, para que eles contemplem a minha glória’ (Jo 17,24).
Diante deste belíssimo texto fica, para cada um de nós, o questionamento sobre o quanto estamos dispostos a SERVIR como amigos e a fazer da amizade um SERVIÇO!?
Que Deus nos dê a graça de relações autênticas, para serem duradouras!
PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS