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Diocese de Assis

 

É triste admitir, mas nossa fé está sempre rodeada por fantasmas. A lógica da natureza humana não permite a total compreensão dos mistérios, em especial aqueles sobre os quais não encontramos qualquer explicação racional. Imaginem o quão difícil foi para os discípulos de Jesus entender e aceitar o retorno do mestre ao convívio com eles, quando ainda se achavam assustados e temerosos com tudo o que testemunharam nas cenas da Via Crucis. Como acreditar no que viam, quando eles próprios haviam providenciado os perfumes e a sepultura para aquele corpo desfigurado e vilipendiado com tamanha violência? Como admitir seu retorno à vida? “Estavam vendo um fantasma” (Lc 24, 37). Só podia ser.

O maior entrave da fé é a lógica. Vivemos num mundo prisioneiro dos cinco sentidos (visão, tato, audição, olfato e paladar). Esquecemos que nossa alma possui uma acuidade especial, um sexto sentido, capaz de superar nossas lógicas e os fantasmas que nossas mentes constroem. Somos capazes de enxergar além da realidade que nos cerca. Essa capacidade, no entanto, deve ser bem apurada e direcionada, como a fé nos ensina. Caso contrário, continuaremos a ver fantasmas em tudo que nos rodeia e foge de nossa compreensão. Essa é a limitação daqueles que não purificam sua fé à sombra dos ensinamentos cristãos. Preocupam-se porque não conhecem a pureza desses ensinamentos. “Mas Jesus disse: ‘Por que estais preocupados e por que tendes dúvidas no coração? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede’!” (Lc 24,38). O sexto sentido da fé pura e genuína complementa e aprimora os sentidos da limitação humana. Tocai e vede.

Eis porque a fé em Cristo não foge da realidade. Ainda nos é possível tocar e ver, sentir a presença divina entre nós graças aos mistérios da ressurreição. Ainda é possível sentar-se à mesa com Cristo, ouvir suas palavras, sentir seu amor, degustar o pão e o vinho, “alguma coisa para comer”, para reavivar a chama de uma esperança maior que nossas lógicas… Sim, a fé não cria fantasmas, mas reaviva em nós as promessas divinas: “Era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei”… Era preciso que não se subtraísse nenhum til ou vírgula da Palavra de Deus…, se quiséssemos alcançar o dom do Entendimento, só concedido àqueles que não mais criassem fantasmas em sua caminhada de fé. Seria essa a graça maior que o Espírito Santo poderia oferecer àqueles que lhe fossem fiéis até o fim, o grande final dessa história de Amor e Fé. Sem falsas visões ou distorções doutrinárias, sem fantasmas!

Hoje, a fé dos tempos modernos supera as lógicas do pragmatismo mundano. Com uma visão maior e mais racional da vida e seus mistérios, ousaria até dizer que nossa fé cresceu em graça e sabedoria. Não diria ser maior do que aquela que nos demonstraram os discípulos de Jesus, que o tocaram e viram, mas com certeza mais amadurecida e coerente. Sabemos que o intelecto humano está mais desenvolvido. Sabemos que a ciência fornece todas as respostas que buscamos para decifrar os segredos da matéria. Mas só a fé explica os mistérios. Só ela é capaz de saciar nosso espírito e abrir nossa inteligência para o sexto sentido humano, o dom do entendimento. Sem essa sensibilidade de alma estaremos limitados à triste realidade de um corpo perecível. Vendo fantasmas onde deveríamos reconhecer o maior dos milagres da história humana, o Cristo Ressuscitado que caminha conosco!

          WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]