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Diocese de Assis

Se fossemos colocados diante da seguinte interrogação: ‘Como é a nossa relação conosco mesmos, com os outros, com as coisas, com o mundo e com Deus?’ Quais serão os princípios, medidas e valores que referenciam nossas relações? Que peso damos para isso, em nossa existência? Que lugar elegemos para essa preocupação? Como é que estamos vivendo, concretamente, este chamado?

A primeira vista estamos diante de um abismo colossal, em termos de relação interpessoal e planetária. Será que chegamos ao ‘fim da picada’? Que nome esse abismo tem? Apego desmedido? Exacerbação materialista? Compensação imediatista? Hedonismo? Individualismo crônico? Inversão de valores?

Temos que assumir uma dura e cruel realidade: nossas relações estão desplanetarizada e desplanetarizante; desumana e desumanizante. Chegamos ao ponto limite da ignorância: insensatez total.

O que fazer? Vamos eleger o pessimismo derrotista como explicação e método? Vamos cruzar os braços? Vamos, cada um, sair como arautos do apocalipse e do fim do mundo? Não! Devemos ser portadores da Boa Nova de Cristo que, comece em cada um, e alcança o mundo. Comecemos com a mudança do eixo/paradigma que nos move.

Diz o Senhor: “Atenção: tenham cuidado com qualquer tipo de ganância!” (Lc 12,15). Estaria Jesus contra a possibilidade de alguém crescer e prosperar? Não. Crescer e prosperar pode, mas, não sob a força da ganância.

Quem não tem vontade de crescer, de melhorar de vida, de ganhar dinheiro, de ampliar o seu padrão, de comprar isso, de fazer aquilo, de alcançar aquilo outro?

Todos nós somos dotados de uma ambição natural. Queremos crescer, subir, avançar, conquistar… E não há nada de mal nisso! Aliás, mesmo sem a determinação de nossa vontade, do nascimento até a morte, nosso corpo experimenta graus e estágios de crescimento e amadurecimentos fantásticos. A vida é para o crescimento; para a expansão; para o algo mais; para o mais profundo; para o mais além. Nesse sentido, somos chamados a nos decidir por um crescimento que a natureza não alcança e não toma o lugar de nossa autodeterminação.

O caso, porém, é que não podemos nos decidir a crescer de qualquer maneira; de qualquer jeito; sem qualquer princípio. É preciso crescer, sim, mas com dignidade. Não há nada que justifique crescer sem o mínimo de respeito a si e aos outros. Aliás, justificativa é o que não nos falta! Temos uma para cada situação. Tudo para isentar culpa, diminuir o impacto da responsabilidade e o peso na consciência.

É legítimo crescer e prosperar, mas nenhum crescimento ou prosperidade deve estar desconectada do amor ao próximo. Se crescemos ou prosperamos, individualmente e as pessoas (as coisas e o mundo) ao redor de nós vivem oprimidas e sufocadas pelas injustiças, pecados e omissões de todos (direta ou indiretamente), como poderemos viver em paz? Não é uma convocação para a socialização da miséria ou a proliferação do sentimento de culpa; é justiça social cristã.

A nossa resposta à questão da mudança do eixo/paradigma não estaria completa se o amor ao próximo não indicasse uma verdadeira conversão social e pessoal. Por isso, além das mudanças fundamentais em relação a ‘todos os outros’ à nossa volta, precisamos de mudanças profundas em relação a nós mesmos, nos seguintes termos: 1. “Mesmo que alguém tenha muitas coisas, a sua vida não depende dos seus bens” (Lc 12,13-21); 2. “Tudo é vaidade; tudo passa. Só Deus é eterno; só Deus basta!” (Ecle 1,2; 2,20-26); 3. “Não confie em suas riquezas, nem diga: elas resolvem tudo!” (Eclo 5,1-8); 4. “Onde está o seu tesouro, ai estará, também, o seu coração” (Mt 6,19-24) e 5. “Procurem as coisas do alto” (Cl 3,1-5.9-11).

Não podemos sustentar nenhum tipo de crescimento humano na plataforma de qualquer tipo de ganância porque ganância, de qualquer tipo, é cega e nos faz cegos.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS