Diocese de Assis
Nada se multiplica se não houver um princípio gerador. Parece teorema físico ou equação matemática, mas é exatamente esta a lição que se encontra no milagre da multiplicação dos pães, que hoje nos conta o evangelista João (6,1-15). Antes de seguir adiante, há na narrativa uma sugestão razoável: o Mestre pede que as pessoas se sentem. Pois sente-se você também… Sossegue seu espírito… e saboreie a refeição que virá!
Olhe o cenário. A multidão aumenta minuto a minuto. A orla do lago de Tiberíades, também chamado de mar da Galileia, está pontilhado de pessoas carentes, uma multidão ansiosa e faminta por milagres… Acorrem a Jesus como última esperança de suas vidas. Diante daquele povaréu todo o mestre levanta uma questão: como alimentar esse povo? Ele tinha a resposta, mas era preciso provocar a consciência antes de realizar o milagre… “Nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a cada um”, responde Filipe. De fato, nenhuma fortuna do mundo seria capaz de satisfazer a fome daquela multidão. Não naquele deserto, naquelas circunstâncias! Não integralmente, com o estômago vazio e o coração conturbado por tantas e tantas carências. O corpo pedia energias, mas a alma agitada e ansiosa por um afago de misericórdia encontrava no olhar de Jesus o lampejo de vida que tanto buscavam.
Lá estava uma criança extasiada com todo aquele alvoroço. Tinha no olhar o brilho de uma descoberta sobrenatural, gerador do milagre que antevia em seu coração. “Aqui estou, Senhor! Eis-me aqui!”, diria como outro Isaias diante do desafio que lhe era proposto. E, estendendo sua cesta com o lanche que trouxera, o menino ofereceu do pouco que tinha: cinco pães e dois peixes! Não é nada, é muito pouco, mas é tudo o que hoje tenho… Aqui começa o milagre da partilha, da generosidade, da multiplicação! O pouco que se faz muito. A farinha da viúva de Serepta mais uma vez fazendo história! Só que desta vez por iniciativa de uma criança, portadora da pureza e inocência de uma alma solidária, sensível às necessidades de uma multidão de famintos. Era pouco, mas era tudo o que podia oferecer, com a certeza de que o Senhor faria o restante, valorizaria sua pequena oferta.
Então Jesus fez sentar aquele povo todo. “Tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados… E fez o mesmo com os peixes”. O desprendimento infantil era o gerador do grande milagre da partilha. A partir da generosidade de uma criança acontece o que a lógica humana diz ser impossível, pois uma multidão não se sacia com tão pouco. Diante de Deus, o princípio de tudo é o nada, a insignificância do que temos e somos. Jesus é o agente multiplicador da nova criação que renasce naquele deserto. O simbolismo eucarístico, com o povo “sentado” ao redor de Jesus, a se alimentar com aquele “pão-vivo”, a renovar suas energias para a longa travessia de um novo deserto, prefigurando nova caminhada libertadora, remete à nossa caminhada como Igreja hoje. O milagre da multiplicação ainda acontece.
Nisso resulta nossa experiência eclesial ao redor da mesa eucarística. Eis a importância das nossas ofertas, em especial da oferta dos pequeninos, das nossas crianças, dos mais necessitados! Aos olhos de Deus é o desprendimento humano que faz gerar o milagre da solidariedade, da fraternidade, de tudo o mais que sonhamos na vida cristã. Só um coração de criança é capaz de transformar a mesa vazia em um banquete festivo, capaz de alimentar multidões. Isso tudo André descobriu ao dar importância à generosidade daquela criança e de sua irrisória oferta diante de Jesus. A multiplicação então acontece.
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]