Diocese de Assis
Neste mundo ele atrai a traça. No outro nos enche de graças. Assim definimos e diferenciamos os tesouros terrenos do grande tesouro prometido aos que acreditam em recompensas celestiais. “Bom mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?” (Mc 10,17). A pergunta do seguidor dos mandamentos divinos está no ar. É a mesma que nos fazemos, diuturnamente, quando confrontamos a falácia da vida humana e as riquezas e benesses que nos são oferecidas através da fé em Cristo Jesus. Alcançaremos tamanhas recompensas? Mereceremos a posse de um tesouro no céu?
Na dúvida, um desafio nos é feito. Já que somos fiéis cumpridores das leis divinas, que observamos tim tim por tim tim todos os dez mandamentos, que vamos além na prática dos preceitos religiosos, que pagamos os dízimos “da hortelã, do endro e do cominho”, que nos esforçamos ao máximo para demonstrar nossa fé e nosso “temor a Deus”, só nos resta uma atitude: “vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres”. Como assim? As posses que aqui amealhamos com tanto suor e sacrifícios, com tanta garra e… astúcia às vezes, com tanta galhardia e orgulho pelas conquistas diárias… esses troféus cotidianos que nosso trabalho mereceu, não, isso não! Afinal, são frutos de um trabalho honesto, conquistas justas e abençoadas. Dá-los aos pobres? Isso nunca.
E o fiel cumpridor das leis “ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico” (Mc 10, 22).
A diferenciação entre mérito e apego é o dilema aqui exposto. Não é a questão da riqueza em si, mas do uso que dela fazemos em função da vida comunitária. Dar aos pobres vai além da responsabilidade administrativa dos bens que nos foram confiados neste mundo. É fazer desses bens fonte de um bem maior, através da ação e função social que estes possam gerar. É administrá-los com responsabilidade coletiva, pois que estes também produzem uma corrente de riquezas que sustenta e beneficia a muitos. Isso é dar aos pobres. Fazer com que as riquezas que lhe foram creditadas sejam fonte de vida e de prosperidade a muitos que se aproximam delas e nelas encontrem sustento e oportunidade de crescimento e vida. Função social da riqueza!
Triste, por outro lado, é a riqueza enraizada no egoísmo e na ambição sem medidas. Nessa não há visão do Reino de Deus. O camelo passará facilmente pelo fundo da agulha (curral destinado a avaliar peso, medidas e saúde dos animais, como aqueles que os pecuaristas fazem para vacinar seu rebanho) conquanto o rico proprietário ficará restrito à visão do rebanho, sem a posse das pastagens verdejantes do outro lado do seu curral. Se não entenderam, paciência! O rebanho do mestre corre solto e saudável do outro lado, no “Reino que para todos preparastes!”
Aos que entenderam e aceitaram esse desafio de fé resta um alerta: não será fácil! O desapego inclui também o bem-estar na vida familiar, a convivência fraterna e social e muitos outros sacrifícios que a vida pessoal almeja, mas que lhe será tirada pela opção evangélica, pois “por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida – casa, irmãos, irmãs, mães filhos e campos, com perseguições – e, no mundo futuro, a vida eterna”. Com perseguições, críticas, incompreensões, etc, etc…
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]