Diocese de Assis

O BANQUETE SEM PRIVILÉGIOS

image_pdfimage_print

 

A lógica do mundo defende o poder hierárquico como privilégio de poucos. Estar no topo, à direita ou à esquerda dos que detêm poderes e status sociais, é o sonho de muitos, que tudo fazem para galgar posições de destaque “no banquete do Reino” (Mt 22,9), o banquete “para aqueles a quem foi reservado” (Mc 10,40). Nada mais oportuno que rever nossa mentalidade de privilegiados no Reino, só porque nossa intimidade com o Senhor da Festa nos promete a salvação. Vida missionária não é garantia de nada, pois dentre os doze aos quais Jesus ensinou a servir por primeiro, estava também Judas.

Refletir sobre isso num Dia Mundial das Missões, é colocar os pés no chão diante dos desafios que a fé nos apresenta. Não temos a certeza da nossa própria salvação, mas não podemos esmorecer no caminho. Até no último minuto dessa passagem a ação missionária é nosso termômetro, quase um grito de serviço ao mundo, ao próximo: “Ide, convidai a todos”!  Não pense apenas em si próprio, mas garanta seu lugar ao redor dessa mesa dando espaço aos últimos, àqueles que estão mais fracos e necessitam de melhores atenções ou estão inseguros, envergonhados, sentindo-se indignos na participação desse banquete. Os últimos serão os primeiros. “Quem quiser ser grande seja vosso servo, o escravo de todos” (Mc 10,44). Esse é o selo da vida missionária autêntica: servidão!

Fico então a imaginar a contradição da missionariedade de gabinete, construída e mantida entre quatro paredes, edificada sob as benesses das loas do poder hierárquico, que não suja os pés com a poeira da estrada, que não gasta as sandálias com as pedras do caminho! Triste realidade de uma Igreja fechada em si mesma, embevecida pelas situações de comando, pelas aparências de poder e glória mundanas, que não troca por nada a posição que ocupa no extrato social dos homens, não na ação do Servo dos servos. Essa é a diferença entre a vida hierárquica da Igreja à qual dizemos pertencer e a vida missionária que pensamos ter. O serviço vem primeiro. As mordomias virão depois. Se fizermos por merecer…

Todavia, não sejamos juízes uns dos outros. As aparências e posições que ocupamos nesse serviço não são fatores de exclusão ou inclusão comunitária, só porque nossa vida está fora dos padrões aqui estabelecidos. Quem julga e avalia a autenticidade de uma vida cristã é Deus. Santa Teresinha do Menino Jesus nunca saiu de seu claustro de orações e devoções, nunca usou da oratória e do conhecimento doutrinário que sua fé possuía, nunca pregou para a conversão de uma vivalma sequer… Mas, em sua ação evangélica, com os joelhos calejados em oração constante, em servidão humilde e paciente, tornou-se padroeira das Missões. Caminhava com a Igreja surfando na oração pelos missionários com os pés na estrada, aqueles que iam chamar a todos para o grande banquete. Eles iam, ela orava. Nem por isso vamos nos indignar com Teresinha, modelo de vida missionária. Enquanto muitos saiam pelo caminho em busca dos desgarrados do grande banquete, ela preparava a mesa louvando e cantando a Deus pelo privilégio de poder servir. Ninguém poderia imaginar ser este o modelo ideal da missão que buscamos cumprir: servidão e oração! Querem maior privilégio?

WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]

Botão Voltar ao topo