Diocese de Assis
Numa cultura de machistas e destemidos, a vida é tratada como um grande ringue para a propaganda e a exibição de falsos lutadores, de falsas lutas e de falsas vitórias. O que se pretende na “vida-ringue” é ocultar o medo.
Medo? Sim! Medo! O medo é a única razão pela qual as pessoas vivem como estão vivendo: mergulhadas no absurdo, tristes, mal amadas, amarguradas, violentas, indiferentes, insensíveis, inconsequentes…
Todos vivemos com medo de tudo e de todos. Desenvolvemos relações de medo. E, por causa das relações de medo, nos situamos na autodefesa, na autopreservação, na autoproteção… como se estivéssemos em estado de guerra permanente. O medo é uma doença atroz.
Você tem medo? Medo do que? Por que o medo? O que se pode esperar de alguém que vive no medo e do medo? Alguém com medo transforma a sua própria vida e a dos outros num verdadeiro inferno. Um inferno na própria vida porque vive retraído, reprimido, infeliz, deprimido, inseguro, insatisfeito, sem iniciativas… Um inferno na vida dos outros porque, por sentir-se sempre perseguido, agride, mente, desconfia, dissimula, calunia, difama…
De onde vem o medo? O medo pode vir de experiências pessoais traumáticas, de foro íntimo, como perdas e de foro externo como uma violência, uma agressão. O medo sempre faz entrever uma situação de intimidação. Isso significa que, invariavelmente, o medo se mantém porque há uma ‘força’ que subjuga o indivíduo. As vezes é um sentimento de culpa; outras vezes uma lembrança, um acontecimento, uma situação, uma pessoa, uma estrutura, uma crença, uma ideologia. Mas, nem sempre, as pessoas admitem que vivem no medo e do medo.
O grande mal do medo é que instala, na pessoa, uma sensação constante de desintegração, de tal forma que, mediante qualquer possibilidade de mudança sente-se ameaçada e, por isso, encapsula-se e isola-se.
O medo tem cura? Como é uma “doença existencial” a cura do medo implica mudança de critérios, atitudes e mentalidade. Uma necessária rearticulação da própria existência sobre outras bases e visão. Inicia-se com a identificação dos “intimidadores” que instalaram o medo e agem para o enfraquecimento do poder sobre si mesmo, até chegar à aceitação da vida e de si mesmo. A aceitação da vida, como uma luta permanente, sem ringues, mas de muitas batalhas. A aceitação de si mesmo, como um lutador sem substitutos que, tem como arma suas convicções, seus valores, seus princípios, sua fé, seu amor, sua esperança e, ao seu favor, tantos quantos lhe querem bem, mesmo quando, para ajudar na luta precisam “puxar-lhe as orelhas” ou indicar outros caminhos e métodos.
O medo só tem espaço porque, falta o temor e sobra o destemor. Neste sentido, algumas leituras bíblicas podem nos ajudar a repensar o modo como temos vivido: se no temor ou no destemor. Vivido no temor, quando agimos com amor e respeito a Deus e aos outros; descobrimos e aceitamos o que nos rege e, ao mesmo tempo, nosso próprio lugar, ação e missão. Vivido no destemor, quando perdemos a noção de limites: tempo e espaço; agimos como se fôssemos os únicos no mundo, de modo individualista; não respeitamos, não amamos e não reconhecemos o outro.
Eis o que diz a Palavra: Gn 3,10: “ouvi teus passos no jardim: tive medo, porque estou nu, e me escondi.” Ex 14,13: “Não tenham medo. Fiquem firmes, e verão o que Javé fará hoje para salvar vocês.” Is 51,7: “Escutem o que eu digo, vocês que conhecem a justiça, gente que traz a minha lei no coração: não tenham medo dos insultos dos homens, nem se rebaixem com suas caçoadas.” Jó 9,35: “Então eu poderia falar sem medo; do contrário, não sou dono de mim mesmo.” Eclo 34,14: “Quem teme ao Senhor não tem medo de nada e não se assusta, porque o Senhor é a sua esperança.” 1Jo 4,18: “No amor não existe medo; pelo contrário, o amor perfeito lança fora o medo, porque o medo supõe castigo. Por conseguinte, quem sente medo ainda não está realizado no amor.”
PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS