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Diocese de Assis

Vivemos numa época na qual vigoram várias crises que incidem, frontalmente, na vida humana; são crises hídricas, climáticas, institucionais, econômicas, sociais, culturais, de identidade, de sentido…

Crise, sempre, foi e, ainda é, solo fértil e oportunidade de crescimento, mudança e transformação mas, é preciso saber aproveitar bem esse solo para plantar o novo. Caso contrário toda crise vira corredor para o abismo.

Infelizmente, numa sociedade capitalista, maniqueísta, relativista, individualista, consumista… como a nossa, as crises são vividas como absurdo e, portanto, abismo. Consequentemente, o que se faz em termos de buscas e soluções passam pelo mesmo viés do absurdo tendendo à polarização e ao radicalismo.

A generalizada falta de esperança que, contamina as pessoas, cresce na mesma velocidade e proporção que os absolutismos reacionários que tentam, a todo custo, implantar modelos de sociedade e de poder, tutelados por heróis e salvadores da pátria. Equivocadamente, temos nos dado ao luxo, de entregar, aos outros, responsabilidades e deveres que são de cidadania e que, portanto, implicam envolvimento, participação e desenvoltura pessoal. Isso é que faz da sociedade um corpo vivo que gesta o novo, a transformação, a mudança… nos tempos e nas situações criticas.

Não bastassem as crises, paralelamente, estamos vivendo uma aguda e avassaladora inversão de valores que mergulha, toda a nossa sociedade, na infâmia da banalização da vida e a (in)consequente banalização de tudo. Resultado: corrupção e corrosão do sentido da vida.

A inversão de valores trouxe graves consequências para arquitetura moral e os compromissos éticos de nossa sociedade, comprometendo instituições sagradas como a família, a política, a liberdade, o respeito e a dignidade humana.

Constatamos, com pesar e tristeza a promoção e o consumo de certas práticas, comportamentos, tendências e estilos de vida endossados e amparados por um relativismo ético e pela perda de referência sobre o que, de fato, significa a dignidade humana.

Diante disso, o que devemos fazer? A que estamos sendo chamados, em meio a este estado de coisas? Qual é a saída?

Vejo como necessário e urgente a retomada da vida em sua simplicidade, singularidade e autenticidade, começando pela valorização das coisas elementares do viver, do bem viver e do conviver. E isso não é abstração não! Vejamos! Uma das coisas fundamentais que perdemos, foi o poder da palavra que dialoga e a atenção a tudo aquilo que a palavra constrói e edifica. A palavra cria relações e permite interrelações. Nesse sentido, se déssemos à palavra, o sentido e crédito de arché humana (arché, como pensavam os filósofos: início, desenvolvimento e fim de tudo), devolveríamos à vida humana, uma considerável parte da sua eticidade. Porque sem ética a vida não é nada.

O que não ganharia a família com a fluência da palavra entre seus membros!

O que não ganharia a sociedade com o trânsito da palavra entre os cidadãos!

O que não ganharia o mundo com a sabedoria da palavra de seus governantes!

Olhando dessa maneira, a Sagrada Escritura nos apresenta a revolução da Palavra na vida, nos sonho e no projeto, de pessoas concretas, e no Reino de Deus. A Palavra projeta luz para dentro e ilumina a integralidade das coisas por isso, ao seu clarão nada permanece imóvel ou endurecido:

– Gn 1. Criação: “Deus disse… e assim se fez”

– Jo 1,14. Encarnação de Jesus. “A Palavra se fez homem e habitou entre nós!”

– Lc 1,38. Sim de Maria: “Faça-se em mim, segundo a vossa palavra.”

– Jo 6,68. Decisão de Pedro: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna.”

– Lc 5,5. Discernimento de Pedro: “Mas, em atenção à tua Palavra, vou lançar as redes.”

 

  1. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS