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Diocese de Assis

 

Em cada um de nós existe sempre uma inquietação em relação às coisas, às pessoas, aos acontecimentos, ao futuro, às decisões, às escolhas… em relação a tudo. Essa inquietude seria boa se não fosse a ‘bendita’ ansiedade que transforma tudo em insegurança, medo, inconstância e, por vezes, desespero.

A inquietude seria um dom se não fosse a culpa.

A inquietude seria uma motivação se não fossem as cobranças.

A inquietude seria um poder se não fosse o imediatismo.

A inquietude seria uma luz se não fosse o pessimismo.

A inquietude humana está adoecida de um mal chamado impaciência. Assim, ao invés de inquietas, as pessoas estão irrequietas (irrequieto significa: que nunca está sossegado; que não pára nunca; buliçoso; turbulento).

Dias atrás, ao fazer minhas orações com a liturgia das horas, encontrei um artigo que gostaria de compartilhar com você, amigo leitor. Espero que traga luzes para você, como trouxe para mim.

 

ESPERAMOS O QUE NÃO VEMOS

(Do Tratado sobre o bem da paciência, de São Cipriano, bispo e mártir)

 

“É este o preceito salvífico de nosso Senhor e Mestre: ‘Quem perseverar até o fim, será salvo’ (Mt 10,22). E ainda: ‘Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará’ (Jo 8,31-32).

É preciso ter paciência e perseverar, irmãos caríssimos, para que, tendo sido introduzidos na esperança da verdade e da liberdade, possamos chegar à verdade e à liberdade. O fato de sermos cristãos exige que tenhamos fé e esperança, mas a paciência é necessária para que elas possam dar seus frutos.

Nós não buscamos a glória presente, mas a futura, como também ensina o Apóstolo Paulo: ‘Já fomos salvos, mas na esperança. Ora, o objeto da esperança não é aquilo que se vê, como pode alguém esperar o que já vê? Mas se esperamos o que não vemos, é porque o estamos aguardando mediante a perseverança’ (Rm 8,24-25). A esperança e a paciência são necessárias para levarmos a bom termo o que começamos a ser e para conseguirmos aquilo que, tendo-nos sido apresentado por Deus, esperamos e acreditamos.

Noutro lugar, o mesmo Apóstolo ensina os justos, os que praticam o bem e os que acumulam para si tesouros no céu, na esperança da felicidade eterna, a serem também pacientes, dizendo: ‘Portanto, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos, principalmente aos irmãos na fé. Não desanimemos de fazer o bem, pois no tempo devido haveremos de colher, sem desânimo’ (G1 6,9-10).

Ele recomenda a todos que não deixem de fazer o bem por falta de paciência; que ninguém, vencido ou desanimado pelas tentações, desista no meio do caminho do mérito e da glória, e venha a perder as boas obras já feitas, por não ter levado até o fim o que começou.

Finalmente, o Apóstolo, ao falar da caridade, une a ela a tolerância e a paciência. ‘A caridade’, diz ele, ‘é paciente, é benigna, não é invejosa, não se ensoberbece, não se encoleriza, não suspeita mal, tudo ama, tudo crê, tudo espera, tudo suporta’ (lCor 13,4-5). Ensina-nos, portanto, que só a caridade pode permanecer, porque é capaz de tudo suportar.

E noutra passagem diz: ‘Suportai-vos uns aos outros com amor, aplicai-vos a guardar a unidade do espírito pelo vínculo da paz’ (Ef  4,2-3). Provou deste modo que só é possível conservar a união e a paz quando os irmãos se suportam mutuamente e guardam, mediante a paciência, o vínculo da concórdia”.

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS