1

Diocese de Assis

Entre nós, quem são os protagonistas do bem? Sãos os mesmos que recebem os elogios, os louvores, os aplausos e a fama? E o mal? Entre nós, quem protagoniza o mal? São os mesmos imputados nos crimes como réus, condenados e penalizados? É a verdade dos fatos que relaciona ‘o que’ com ‘quem’ ou é a força do status, do poder, da fama, do dinheiro etc?

Quem, geralmente, é alijado do protagonismo histórico, para ceder o seu lugar a um mero figurante? Quem comanda o sobe-e-desce dos lugares sociais de destaque e o protagonismo na história? Que poderes são usados para reger esta orquestra? Que valores servem de base para sustentar ações e omissões? Que interesses ficam evidentes nesta cultura de simulacro?

A versão de história que temos é a que passa pela espetacularização da grande mídia através de seus noticiários, de suas novelas, de seus filmes, de suas propagandas e de suas ideologias. É a versão dada pelos que têm status, poder, fama, bens e sucesso. É a versão dada pelos que podem mandar, consumir e comprar. É a versão de quem governa, de quem administra, de quem educa, de quem prende/solta, de quem atira, de quem tem prestígio…

Quem contará a história dos anônimos no nosso planeta? Quem falará do José na roça, da Maria no tanque, do idoso no asilo, do enfermo na cama, da criança no orfanato, do feto no aborto, do indígena na colonização, do negro na escravidão, do pobre na luta… a sua história?

Quem franqueará espaço na mídia para as ações, verdadeiramente, humanitárias? Quem cederá a palavra ao analfabeto? Quem permitirá acesso ao desqualificado? Quem garantirá o direito ao que não tem senha? Quem terá um olhar para os que, socialmente, ficaram invisíveis? Quem dará eco ao clamor dos silenciados? Quem fomentará incentivo aos pequenos gestos? Quem julgará a causa dos pequenos? Quem prenderá os culpados e soltará os inocentes? Quem eliminará a lei da vantagem e do lucro a qualquer custo?

Eu creio que um mundo novo é possível! Como eu gostaria de ver a lógica do mundo sendo quebrada pelo mistério da fé! Como eu gostaria de ver o novo céu do amor-justiça e a nova terra da política para o bem comum. Com me encantaria contemplar a aproximação dos inimigos e o respeito das diferenças. Como seria bonito a se as conquistas tecnológicas andassem de mãos dadas com o índice de desenvolvimento humano. Como seria interessante se a justiça caminhasse de mãos dadas com a paz! É verdade que os direitos iguais e a igualitária distribuição dos bens são questões fundamentais da justiça social. Mas, deveria ser, também, uma questão de justiça social a verdade sobre a história, seus sujeitos e protagonistas.

Eu Creio no Reino de Deus e em seu mistério! A utopia do Reino de Deus está é sustentada pelos ideais da fé que destoam com os interesses do mundo. Mas, quem vai querer os ideais da fé se eles contradizem os interesses do mundo e suas promessas? Quem vai investir na utopia do Reino de Deus se nele não está presente a lógica do mundo.

Não são definitivas as versões sobre a história, seus sujeitos e protagonistas dados pelo mundo. A fé tem outra versão! A versão da fé para a história, seus sujeitos e protagonistas passa pela verdade sobre o Reino de Deus.

É Jesus mesmo quem diz: “o meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue às autoridades dos judeus. Mas, agora, o meu reino não é daqui” (Jo 18,36).

Noutra ocasião, fazendo uma oração, Jesus diz quem são os sujeitos e protagonistas da Nova História: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes essas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos.”

Ora, a Nova História não é outra, senão a do Reino. Essa história encontra nos simples, nos humildes e nos pequeninos seus sujeitos e protagonistas: “Quem der, ainda que seja apenas um copo de água fria a um desses pequeninos, por ser meu discípulo, eu garanto a vocês: não perderá a sua recompensa” (Mt 10,42. cf. também, Mt 18,6.10.14).

Aqueles que não aparecem na versão oficial da história, são os seus verdadeiros protagonistas.

Pe. Edvaldo dos Santos