Diocese de Assis
Não tem essa de que a evangelização cristã é um desrespeito à cultura, tradição ou costumes de povos estranhos à nossa fé. O Sínodo sobre a Amazônia vem reafirmar exatamente isso: o anúncio do Evangelho – como o próprio nome diz – é a proclamação pura e simples de uma Boa Notícia que interessa a todo gênero humano. É uma nova fórmula de diálogo cultural. Um anúncio de fraternidade e igualdade entre os povos. Início da sonhada comunhão universal entre raças, credos e costumes. Proclama a verdade de Jesus Cristo, somando à inerente espiritualidade humana uma nova maneira de cultuar o divino, sem desrespeitar as diversas expressões humanas de fé e devoção. Nesse contexto, anuncia o Deus de Jesus Cristo.
Papa Francisco não é um revolucionário, um inovador ou mesmo um provocador contra direitos adquiridos ou estabelecidos pela força, pela tradição, pela cultura ou mesmo pela soberania de quem quer que seja. Apenas desempenha seu papel de divulgador de uma doutrina fraternal. Em sua mensagem para o Dia Mundial da Missão, nesse ano extraordinário de 2019, foi claro e suscinto ao reafirmar que “a Igreja continua a necessitar de homens e mulheres que, em virtude do seu Batismo, respondam generosamente à chamada para sair da sua própria casa, da sua família, da sua pátria, da sua própria língua, da sua Igreja local”, para anunciar o Cristo. O desafio missionário continua, mesmo diante das portas fechadas que encontra em muitos países, regiões e guetos de fé. Cristo ainda precisa dos homens de boa vontade. A missão ainda é uma vocação profética de muitos batizados, em especial destes que compreendem e aceitam o chamado missionário e seus desafios, suas fronteiras, sejam estas culturais, físicas, religiosas ou geográficas. Não importa. A missão da Igreja é universal.
“Assim, a missão ad gentes, sempre necessária na Igreja, contribui de maneira fundamental para o processo permanente de conversão de todos… A fé na Páscoa de Jesus…, a saída geográfica e cultural de si mesmo e da sua própria casa, a necessidade de salvação do pecado e a libertação do mal pessoal e social exigem a missão até aos últimos confins da terra”, reafirmou Francisco.
Diante dessa realidade bem clara e suscinta sobre a missão da Igreja e, por consequência, também de seus seguidores, é ridículo dizer que um sínodo em especial tenha objetivos escusos ou inadvertidamente intervencionistas ou políticos. Pequena a mentalidade de quem assim pensa. “A coincidência providencial do Mês Missionário Extraordinário com a celebração do Sínodo Especial sobre as Igrejas na Amazônia leva-me a assinalar como a missão, que nos foi confiada por Jesus com o dom do seu Espirito, ainda seja atual e necessária também para aquelas terras e seus habitantes. Um renovado Pentecostes abra de par em par as portas da Igreja, a fim de que nenhuma cultura permaneça fechada em si mesma e nenhum povo fique isolado, mas se abra à comunhão universal da fé”, escreveu o Papa.
Então é isso. Quando criança, ainda na catequese, aprendi que devíamos rezar pelos missionários em terras de missão, em especial aqueles que estavam na Ásia, África ou mesmo em nossa Amazônia. Nosso território ainda é terra de missão. O grupo missionário do qual faço parte tem um núcleo amazônico, nascido nessa realidade, conhecedor de suas próprias carências, sonhador com um mundo de mais justiça e igualdade, merecedor de nossos aplausos, incentivos, mas principalmente orações. Vamos em frente, irmãos de fé, camaradas! Estamos juntos, nessa. “Que ninguém fique fechado em si mesmo, na autorreferencialidade da sua própria pertença étnica e religiosa”, diz o Papa. Que ninguém fique sozinho nessa, arrisco eu…
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]