Diocese de Assis
SER e ESTAR são muito mais do que dois verbos com terminações e significados diferentes. Ser e estar comportam a vida em sua complexidade. O verbo ser define existência (ontológica e inequívoca). O verbo estar define estado (circunstancial e transitório). Enquanto o verbo ser trata de questões relacionadas à existência: identidade, verdade, unicidade, verdade e personalidade de um determinado indivíduo, o verbo estar trata de questões relacionadas à sua condição no tempo e no espaço: estar doente, indisposto, triste, nervoso, vestido, longe…
Quando falamos que isto ou aquilo é; que este ou aquele é estamos fazendo afirmações que dizem respeito a tudo aquilo que ultrapassa o tempo e os momentos, o espaço, e as circunstâncias. Diferentemente, quando dizemos que isto ou aquilo está, este ou aquele está estamos fazendo afirmações sobre uma situação ou circunstância na qual se encontra; como algo transitório; como algo passível do tempo. Não demora muito e a circunstância muda.
Trazendo para bem perto de nosso dia-a-dia, ser e estar abrangem um universo de compreensão bastante largo que traduz as relações interpessoais, motivações interiores, ações, necessidades, poder, desejos, vontades, realizações conosco mesmo, com os outros, com Deus e com o mundo.
No mundo, nada e nenhum de nós é o que é por um tempo apenas ou por um momento. O ser de qualquer pessoa ou coisa diz respeito à sua própria vida e existência; diz respeito à sua essência e à sua verdade mais profunda, sempre, acima das circunstâncias. Isso é uma questão de autenticidade. É verdade que tudo o que existe está voltado para algo ou alguém; é marcado e deixa sua marca; influencia e deixa-se influenciar. O ser das pessoas ou coisas está ligado à sua origem; é uma condição inata; pertence à sua gênese. Entretanto, não dá para falar do que algo ou alguém é sem nos referirmos a como, quando, onde, quem, porque, para que e com quem está e faz. Só o que é pode estar e fazer. O estar-fazer acompanha o ser! O ser ‘pede’ o estar e o fazer, para se tornar visível aos outros.
Na Bíblia, a expressão DEUS-CONOSCO, como profecia de Isaías (Is 7,14) e anúncio de Mateus (1,23) traduz em termos bem concretos o ser de Deus em sua presença e obras no mundo e nas pessoas. O que sabemos de Deus e dele podemos entender nos é dado por sua presença e obras. Tudo de Deus se reflete em nós, como num espelho. Assim, Deus é conosco e nós somos com Deus.
Ao estar presente e ao realizar sua obra em nós e no mundo, Deus comunica o seu ser. Assim, marcados por Deus, tudo e todos, expande a sua própria existência, revelando o ser de Deus em seu ser. Nem as coisas e, nem tão pouco, nós nos revelamos como deuses, mas, sim como divinos: humanos e divinos.
Da mesma forma como na fé, estamos marcados pelos nossos genitores. Somos um pouco de nossos pais, sem nos confundirmos com eles. Somos a genética dos nossos pais, mas, estamos revestidos do nosso próprio ser. Nós só nos relacionamos como família porque há uma comunicação silenciosa de parentesco que nos aproxima, nos liga e nos faz ser pais, filhos, irmãos, primos, tios, avós… Por que somos pessoas, mesmo não sendo parentes, nos comunicamos como amigos, namorados, associados, companheiros… O que há de humano em nós ‘toca’ o que há de humano no outro e nos aproxima e nos interliga.
Nós só alcançamos as coisas do alto e só somos alcançados por Deus porque em nós, algo de divino ‘reclama’ o divino que há em Deus. Por isso, ser cristão, ser bom, ser humilde, ser fiel… não é algo que esteja na periferia de nossa vida, mas, no mais profundo de nós todos. Pertence ao nosso ser. Ninguém é o que é por algum tempo apenas. Não se pendura o que se é no cabide e nem se deixa em stand bye, por conveniência do momento ou da ocasião. O que nós somos o somos para sempre
A verdade do Natal de Jesus, como presença e ação de Deus no mundo, encontra um forte eco em nossa vida quando questiona a autenticidade de nossa existência na busca de superação de qualquer contradição que possa existir em nosso ser-estar-fazer. Que nenhum de nós precise do recurso do camaleão que se disfarça, mudando sempre de cores. Na natureza, o mimetismo é uma questão de sobrevivência. Nós não precisamos de disfarces: ou somos, ou não somos.
PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS