Diocese de Assis
Enfim, um domingo para se celebrar a Palavra…. Como se os demais não o fossem? Sim, domingo já nos diz: Dominus, Senhor, Dia do Senhor. Mas então, porque só agora o Papa resolve estabelecer um domingo, o terceiro do Tempo Comum, para se celebrar oficialmente a Palavra de Deus? Porque o mundo necessita de maiores ênfases para valorizar o que Deus já nos diz diariamente: “Convertei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus”.
Ora, se essa é a mensagem central da Palavra, um apelo quase constante à conversão e à mudança de vida proposta pelos Evangelhos, em especial, porque só agora a Igreja estabelece um único domingo para se refletir, celebrar e divulgar a Palavra? Já não temos o Dia da Bíblia, o mês? Não sejamos tão simplistas assim. O mundo está carente da Palavra e, mais do que nunca, é preciso dar-lhe uma conotação de esperança renovada, para que mais e mais pessoas encontrem nas páginas bíblicas a essência do que buscam. “Hoje, como então, Deus deseja visitar aqueles lugares onde se pensa que Ele não está. Jesus, como dizem os Evangelhos, começou a percorrer toda aquela região multiforme e complexa, a Galileia dos excluídos” – disse o Papa Francisco em sua homilia do Primeiro Domingo da Palavra – lembrando-nos que a Boa Nova da Salvação começou a ser anunciada onde menos se esperava.
Enfatizando essa necessidade, Francisco realça o carisma missionário da Igreja e seu pioneirismo desbravador: ir onde o povo está, buscar discípulos, semear, disseminar, fazer ao largo, lançar suas redes, confiar mais nas promessas advindas da Palavra. Lembra-nos que para tanto não podemos reter a Palavra, como se esta fosse propriedade nossa, se restringisse às paredes de nossos templos, do templo divino que pensamos ser.
“Não era certo o lugar onde se encontrava o povo eleito na sua pureza religiosa melhor. E, no entanto, Jesus começou de lá, não do átrio do templo de Jerusalém, mas do lado oposto do país, da Galileia dos gentios, de um local de fronteira, de uma periferia. Disso mesmo podemos tirar uma lição: a Palavra que salva não procura lugares refinados, esterilizados, seguros. Vem à complicação de nossos dias, as nossas obscuridades. Hoje, como antes, Deus deseja visitar aqueles lugares onde se pensa que lá Ele não vai” – disse o Papa.
O Domingo da Palavra, portanto, é um momento litúrgico voltado para o próprio povo de Deus, para recarregar suas energias, renovar seus propósitos e compromissos com Deus, e, quiçá, retomar sua caminhada missionária em direção ao mundo, as periferias existenciais que nos pressionam e tolhem nossos ânimos evangelizadores. Diria ser um dia de nova imposição das mãos sobre as promessas que jorram da Palavra de Deus. Um dia de refazer nosso juramento batismal, nosso compromisso missionário. Por que não? Afinal, quem conhece a Palavra dela toma posse, com ela se compromete bem ou mal. Porque não haveria desobediência se não houvessem ordens, infrações sem leis, violações sem restrições, pecado sem o conhecimento destes. Isso tudo provem da Palavra Revelada, a ciência humana que mais nos aproxima de Deus.
Notemos que para tanto é necessário divulgar a verdade estampada em suas páginas. Sem o conhecimento desta a vida perde o eixo da racionalidade, do belo, da plenitude que tanto buscamos. A Palavra de Deus desperta-nos para o sentido da vida, o amor verdadeiro. “Fomos atraídos pelo Amor para seguir a Jesus. Só Ele, que nos conhece e ama profundamente, leva-nos a fazer ao largo da vida, como o fez com seus discípulos. Só Ele para nos ensinar, nos enviar, confiantes em sua palavra. A única palavra que não nos fala de coisas, mas de vida” – concluiu o Papa.
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]