Diocese de Assis
A rodovia da vida humana foi sempre bem sinalizada. Setas, luminosos, faixas, placas de todas as cores e tamanhos foram plantadas na orla da história, ao longo de seus domínios. Desvios, pontes e aterros o homem então construiu. Encurtou o percurso, mas aumentou os riscos de acidentes.
“Não matar” (1) é a premissa de todos os mandamentos, pois que todos os demais se complementam, dentro de uma leitura concêntrica do decálogo do Sinai. Ao volante nos lembramos: não corra, não mate, não morra!
Então a Igreja nos ensina que “a estrada deve ser um instrumento de comunhão, não de danos mortais” (2). Esses já perfazem, com cifras assustadoras, a realidade cotidiana do mundo sem respeito às leis divinas. Um veículo não pode ser mais uma arma em mãos de irresponsáveis.
A educação para o trânsito passa pela disciplina do bom relacionamento entre as pessoas. “Cortesia, correção e prudência” (3) ajudam, e muito. Podem amenizar um problema imprevisto ou mesmo serenar os ânimos do estressado habitual, que cruza nosso caminho e até das eventuais estafas que o dia a dia moderno nos proporciona.
Aqui entra a caridade, princípio básico do relacionamento cristão dentro de uma sociedade tristemente individualizada. Paradoxo que contradiz o sentido da sociabilidade, mas que deve ser lembrado pela prática cristã: “Sê caridoso e ajuda o próximo em necessidade”(4), especialmente quando vítima de acidentes.
Mas as normas de um tráfego mais humano vão além. Mais do que nunca, é preciso nos lembrar de que “o automóvel não é uma expressão de poder”(5). Eis um grande mal que divide e provoca grandes estigmas na sociedade do mando e poder, do ter e prazer. Dominação é fonte de muitos pecados.
Todavia, a Igreja também nos convoca a sanar o mal pela raiz, ou seja: “Convence os jovens a não conduzirem quando não estão em condições de o fazer”(6). Desafio para os pais, mas igualmente para os formadores da conduta social, cuja meta não pode continuar como facilitadora da liberdade sem responsabilidades.
Do sinistro vêm conseqüências. Muitas delas irreversíveis, marcando para sempre a vida e frustrando os sonhos de muitas famílias. “Ajudar as famílias dos acidentados”(7) é o mínimo que se pode esperar de um povo cristão. Não é o que vemos nos entraves burocráticos de nossas leis. Processos se arrastam por anos infindos, sem que muitas famílias sejam reparadas pelos eventuais danos. Isso sem falar da indiferença e falta de solidariedade de muitos que pelas nossas estradas transitam.
Afloram, no entanto, as agressividades dos que se envolvem num acidente. Aqui o conselho é apaziguador: “Procura conciliar a vítima e o automobilista agressor, para que possam viver a experiência libertadora do perdão”(8). Ah, o perdão, a conciliação! Quando veremos essa prática em nosso trânsito?
Vale acreditar. Então nada mais natural que nos policiarmos mutuamente, sem necessidade de tantas regras e punições. “Na estrada, tutela a parte mais fraca”(9). Isto é, você também pode proteger, resguardar o direito e a integridade dos que experimentam vulnerabilidade diante do caos de um trânsito voraz.
Chega-se assim ao último mandamento: “Sinta-se responsável pelos outros”. Nada do cada um pra si, pois que nas estradas da vida a lei do trânsito está em perfeita sintonia com as leis de Deus. “O que observa a disciplina está no caminho da vida, anda errado o que esquece a repressão” (Prov 10,17). Boa viagem!
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]