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Diocese de Assis

A quaresma chegou! Qual a implicação disso em nossa vida?

Não é de hoje que ouvimos falar em quaresma. O que pensar da quaresma? O que sabemos sobre o seu dinamismo e a sua força? De que maneira ela influencia sobre a nossa vida? Como vencer os chavões e superstições sobre este tempo da graça de Deus sobre a humanidade? O certo é que precisamos redescobrir a quaresma para redescobrirmos a nós mesmos!

Abdicar ao simplismo. Não podemos esperar atitudes surpreendentes, comportamentos surpreendentes, decisões surpreendentes, projetos surpreendentes ou qualquer outra coisa surpreendente de quem ousa perpetuar as mesmas ideias simplistas sobre os acontecimentos, sobre os momentos, sobre os tempos e sobre a vida.

A quaresma esta aí. A Quaresma está ai!  Não é uma mera invenção humana e nem um artifício religioso. Pelo contrário, é uma necessidade existencial, inscrita no coração da humanidade, do encontro consigo mesmo.

Apesar de ser uma “instituição” da Igreja Católica, a Quaresma nasceu com o homem. Portanto é de cada um de nós. A Igreja não é a dona, mas coube à ela, em razão do seu do seu papel milenar de Mãe e Mestra, ler, interpretar e ritualizar este itinerário que compete à vida humana.

Muito pouco sobre a vida. Temos e guardamos muitas ideias sobre tudo na vida. Contraditório ou não, quase sempre, sabemos muito pouco sobre a vida, porque sabemos muito pouco sobre nós mesmos.

A questão básica é que, estamos ocupados com tudo neste mundo: trabalho, família, dívida, escola, crise…, menos conosco. Dia por dia, estamos nos desocupando cada vez mais de nós mesmos e, isso é mal.

Perguntas e perguntas! Aonde queremos chegar? O que queremos provar? Algum tipo de bondade? A tão pretendida humildade? A força do bem contra o mal (como nas histórias de super heróis)? A generosidade?

Sombra do egoísmo. A sombra do egoísmo nos transformou em maus altruístas. Tentamos cuidar muito bem dos outros, mas não cuidamos de nós mesmos. Isso é contraditório!  Ninguém pode cuidar bem dos outros quando não cuida bem de si mesmo; ninguém respeita aos outros, quando não respeita a si mesmo; ninguém é fiel aos outros quando não é fiel a si mesmo; ninguém pode amar os outros quando não ama a si mesmo.

Interior Livre? Precisamos nos libertar da falsa ideia de que o cuidado conosco mesmo é sintoma de egoísmo. Eu lhe pergunto, você está mesmo certo(a) de que está fazendo tudo com a mais genuína convicção que nasce de um interior livre?

Quem sabe não seja agora, a hora do confronto com os por quês que cada um de nós evitou quando criança; de promover a sábia reconstrução do ser não só para os outros, mas do ser para si.

Uma questão de busca. A busca de si mesmo! Este é o ideal perdido, numa sociedade (capitalistas) promoveu o altruísmo, mas não fez emergir a fraternidade; suscitou desejos e necessidades, mas não satisfez a fome; que criou o individualismo, mas não fez nascer indivíduos que são sujeitos.

Será que o mundo nos conhece como gente, como humanos?

Fomos convertidos em número, em cifra, em estatística. Mas, nós somos gente. Precisamos fazer a volta sem revolta; precisamos de conversão sem inversão; precisamos de nós mesmos.

Explicação e motivo. Devemos buscar não apenas a explicação para guardar os quarenta dias da quaresma, mas a motivação. Quarenta anos o povo comeu o `maná no deserto (Ex 16,35; Nm 14,33); Moisés ficou sobre a montanha, quarenta dias e quarenta noites (Ex 24,18; Dt 9,9); e choveu quarenta dias e quarenta noites sobre a terra – dilúvio (Gn 7,4) Dentro de quarenta dias, se não se converterem, Nínive será destruída (Jn 3,4); por quarenta dias e quarenta noites, Jesus esteve jejuando no deserto (Mt 4,1-11; Mc 1,12-13; Lc 4,1-13). O número quarenta deixa de ser um simples número, uma sequência numérica para ser um evento existencial necessário e indispensável. Será que vamos desprezar mais esta chance?

E viva os nossos “quarenta dias!”

PE. EDIVALDO PEREIRA DOS SANTOS