1

Documentário traz face inédita de Lula e revisa história recente do país

 

 

 

A história de Luiz Inácio Lula da Silva se confunde com a caminhada de muitos outros brasileiros. Movimenta sentimentos intensos de identificação e admiração. Afinal, entre 2003 e 2015, 30 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema graças a programas e políticas iniciados por ele em seus dois mandatos como presidente. Alguns desses brasileiros e brasileiras contam suas trajetórias em primeira pessoa no documentário “O povo pode? – Um país pelo olhar de brasileiros”, do cineasta Max Alvim, que estreia dia 4 de maio, em São Paulo.

Na abertura, em off, a voz do narrador explica que o trabalho narra os acontecimentos que nos últimos seis anos (a referência é 2021) levaram o Brasil ao caos em que se encontra. Não por acaso, a primeira imagem do longa-metragem exibe a Avenida Paulista de cabeça para baixo. A narrativa, no entanto, é focada não nos atores da política formal, mas nas falas e vivências desses quatro trabalhadores nordestinos e sua relação com a história do ex-presidente Lula.

Lula já foi retratado várias vezes no cinema, entre elas no documentário “Ao Sul da Fronteira”, do norte-americano Oliver Stone, e no longa “Lula, o Filho do Brasil”, de Fábio Barreto e Marcelo Santiago. Em alguns trabalhos, o ex-presidente aparece como personagem central, como no documentário “Entreatos”, de João Moreira Salles; noutros, ele é o pano de fundo para retratar o contexto de onde surgiu, como em “Peões”, de Eduardo Coutinho.

Para Alvim, “O povo pode?” consegue trazer uma nova perspectiva a partir do mesmo icônico personagem. “Eu sempre disse que Lula não precisa de documentários. É uma figura pública com estatura tão grande que suas ideias, obras e práticas políticas são demasiadamente conhecidas da população. Por isso, este documentário buscava mais o olhar do Lula que o próprio Lula. Eu creio que o Lula que o documentário traz está impresso em muitas vozes, não só na dele, e isto pode apresentar uma nova face deste homem que marcou nossa história”, justifica.

Dentro dessa perspectiva, a proposta do filme, segundo seu diretor, é investigar o que o povo pode, quando e como pode. “Por um lado, a questão está na potência, na condição de poder, mas no outro está na orientação, na politização, na ideologia que o povo carrega, quando ‘pode’”, explica. A ideia do título foi tirada de uma fala de Lula sobre a intenção de sua prisão, que aconteceria efetivamente depois. “Eles querem me prender, mas não se prendem ideias, e Lula é uma ideia, a ideia de que o povo pode”, disse o ex-presidente na caravana Lula pelo Nordeste, em 2017.

Lançado em ano de eleição presidencial, o documentário certamente vai enfrentar críticas de que se trata de uma obra feita para turbinar uma eventual campanha, já que ele será o provável candidato do PT para derrotar a tentativa de reeleição de Bolsonaro. “Não sou ingênuo. Vivemos em tempos de muito ódio e essa turma é bélica. No entanto, meu filme não tem esse propósito. Como documentarista, meu esforço é sempre observar e problematizar nosso tempo”, declara Alvim sobre o tema.

“O povo pode?” já está inscrito em mais 20 festivais mundo afora. Apesar disso, sua distribuição segue a mesma ideia desde o início do projeto: levar o filme ao maior número de pessoas possível, valorizando as exibições públicas e gratuitas sobretudo para aqueles que não têm acesso ao cinema. “Nós vamos exibir em praças públicas, sindicatos, universidades, cineclubes, movimentos populares, periferias e, numa segunda etapa, na internet. Além disso, ele também estará disponível gratuitamente no novo aplicativo da TVT, que já está quase pronto e será lançado junto com o filme. Em breve vamos anunciar”, promete.

SINOPSE

João, Vani, Aurieta e Izaltina – quatro pessoas simples do Nordeste, trabalhadores e representantes legítimos do chamado Brasil profundo – são os principais personagens do documentário “O povo pode? – Um país pelo olhar de brasileiros”, novo trabalho do diretor Max Alvim. No longa-metragem de duas horas, filmado entre os anos de 2017 e 2021, eles contam como suas vidas foram transformadas no período em que Luís Inácio Lula da Silva foi presidente do Brasil, comparam e ponderam suas trajetórias e, assim, oferecem uma nova leitura sobre esse personagem histórico e sobre como chegamos ao momento em que o país se encontra.