Espaço Espírita

  ABANDONAR  PAIS,  IRMÃOS,  ESPOSA  E  FILHOS...

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 “E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor de meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna.”  JESUS (Mateus, 19:29)

           Essas palavras do Evangelho, interpretadas ao pé da letra, têm dado margem a sérios equívocos entre aspirantes à vida espiritual.

Muitas criaturas, sentindo o desejo de devotar-se aos ideais superiores, e julgando-se incompatíveis com a vida ordinária, resolvem abandonar os pais e irmãos, ou a esposa e os filhos, para se recolherem a um claustro ou entregarem-se ao ascetismo, na suposição de que, com isso, estejam atendendo ao chamamento do Cristo.

Essa atitude não condiz com a doutrina cristã, que nos ordena honrar pai e mãe, bem assim amar o próximo como a nós mesmos.

Abandonar aqueles que compõem nosso círculo familiar, ou simplesmente deixar de prestar-lhes a devida assistência, para cuidarmos egoisticamente do próprio desenvolvimento espiritual, é tão censurável como não nos interessarmos por isso.

Ninguém pode avançar espiritualmente, deixando para trás obrigações e compromissos assumidos com aqueles que a providência Divina há colocado dentro do seu lar, na condição de credores de sua melhor atenção e carinho.

Por outro lado, não se devem confundir esses deveres com a preocupação doentia dos que atravessam a existência acumulando dinheiro e propriedades para que a família herde um patrimônio, ainda que, para conseguir esse objetivo, precisem empregar a astúcia, a desonestidade, a violência e outros recursos menos dignos.

Essas obrigações familiares menos ainda devem fazer-nos esquecidos dos deveres que temos para com “os outros”; também eles são filhos de Deus, e, pois, nossos irmãos.

Não é razoável, portanto, que, por consideração à família, nos escravizemos às exigências sociais, a ponto de nunca nos sobrar uma hora para um contato direto com os sofredores, aos quais devemos solidariedade, como não é justo despendermos com a parentela, no vício ou no luxo, quantias que dariam para atender a inúmeros desafortunados, carecidos de pão, agasalho, remédio, etc.

Lembremo-nos de que nossos familiares são, como nós, espíritos em evolução e que, antes de lhes garantirmos uma boa situação material, melhor fora que lhes déssemos uma boa formação moral; que, ao invés de lhes satisfazermos a todos os caprichos e vaidades, cumpre-nos despertar-lhes, com o nosso exemplo, o gosto pela prática do Bem, fazendo-os sentir quanto é sublime renunciar a mesquinhas satisfações pessoais em favor das necessidades do próximo.

Resumindo: não é certo desampararmos nossos familiares, na vã tentativa de salvar-nos sozinhos, nem tão pouco nos submetermos aos seus interesses puramente mundanos.  O ideal seria conseguir e manter uma posição de equilíbrio, “dando a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.

RODOLFO CALLIGARIS

Extraído do livro “Páginas de Espiritismo Cristão”

Editora FEB

U.S.E.-UNIÃO  DAS  SOCIEDADES  ESPÍRITAS  DO  ESTADO  DE  SÃO  PAULO – INTERMUNICIPAL  DE  ASSIS

 

 

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