ESPAÇO ESPÍRITA
Encontrava-se o Dr. Bezerra de Menezes finalizando alguns comentários a respeito das desigualdades sociais, em reunião pública da Federação Espírita Brasileira, no Rio de Janeiro, quando um dos assistentes mostrou-se desejoso de interrogá-lo. O abnegado médico espírita anuiu com bondade e o interpelador, rompendo o silêncio que se fizera, iniciou com ênfase:
– Doutor, interesso-me também por problemas sociais, embora seja materialista. Entretanto, não concordo com o Espiritismo quanto aos meios propostos para a realização do equilíbrio social. Vejo fome e nudez, sofrimento e angústia, por onde passo. E a religião que o senhor professa aconselha aos sofredores humildade e resignação, brandura e obediência. Não entendo. De que maneira acomodar-se diante de tais problemas? Tolerância, quando se tem fome? Humildade, quando se é miserável? Na verdade, penso em soluções radicais, atinentes ao governo. Igualdade não se conseguirá com prosa e exortações. O que resolve é a imposição. É preciso luta. Com armas, se necessário
O impetuoso perguntador parou um momento, procurando o efeito de suas palavras, e continuou, interrogando de chofre!
– Então, o que senhor acha disso?
O bondoso médico dos pobres endereçou-lhe sorriso humilde e principiou sua resposta, perguntando:
– Meu filho, se Deus lhe concedesse agora uma comunidade, como domínio, que atitude tomaria você diante dos criminosos?
– Mandaria segregá-los para corrigi-los – respondeu o outro.
– E frente aos enfermos necessitados de amparo fraternal?
– Providenciaria interná-los em hospitais, visando a sua recuperação física e mental.
– E perante os sequiosos de oportunidades para construir o progresso, em qualquer setor das atividades humanas?
– Facilitar-lhes-ia as condições suficientes para que crescessem, beneficiando a cidade
– Então, meu filho, conseguiria você nessa comunidade colocar, lado a lado, criminosos e homens honestos, velhos doentes e atletas vigorosos, comerciantes operosos e indivíduos ociosos, procurando igualá-los?
– Isto seria impossível – respondeu o interrogador, com uma ponta de preocupação.
O venerável benfeitor espírita endereçou-lhe, então, significativo olhar e completou com brandura e energia:
– Pois é assim que age a sabedoria de Deus. Miséria, fome e doença são contingências necessárias a certos espíritos, enquanto riqueza, saúde e cultura são responsabilidades outorgadas a outros, que delas se fizerem merecedores. As desigualdades sociais e a reencarnação funcionam como instrumentos da Providência Divina para a evolução do espírito.
Diante da lógica desta explanação, o assistente calou-se imediatamente, enquanto o Dr. Bezerra de Menezes iniciava sentida prece, encerrando a reunião
HILÁRIO SILVA
Extraído do livro “Histórias da Vida” – Psicografia: Antonio Baduy Filho
U.S.E.-UNIÃO DAS SOCIEDADES ESPÍRITAS DO ESTADO DE SÃO PAULO – INTERMUNICIPAL DE ASSIS