HOLOFOTES

  Por Alcindo Garcia

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A fotografia nasceu na metade do século passado. Acho que sou dessa época. Hoje com a digitalização, o celular, tudo é mais fácil, com um inconveniente. Acabou com o direito de imagem. Nossa cara aparece em todo canto até nas redes sociais. Minha ojeriza por fotos começou aos seis anos de idade, quando minha mãe levou-me ao estúdio fotográfico da cidade para a minha primeira foto. Que digital que nada! Sou do tempo em que a câmera era pré-diluviana, uma espécie de caixote apoiado num tripé. O fotógrafo chamava-se Jason, um artista. Colocou-me numa poltrona e pediu-me que olhasse para a câmera. Acendeu as luzes. Uma luz enorme no alto e duas,  menores, uma em cada lado, me ofuscavam a vista. Eu não sabia exprimir o que se passava, mas me sentia incomodado com aqueles holofotes. Mesmo não tendo luz própria, em criança já recriminava fotos e holofotes.

O fotógrafo, além de artista, tinha uma paciência de Jó. Eu não sabia se olhava para a câmera ou para minha mãe que coordenava tudo. Irrequieto, eu não parava. “Para de balançar as pernas” repreendia a minha mãe.  A rebeldia já se instalara em mim, porque eu já sabia que não havia passarinho nenhum naquela câmera. De novo tocou-me o queixo e ergueu minha cabeça. “Atenção, não mexa”, disse ao disparar a câmera. Finalmente a foto foi batida. Para mim uma chatice: para o fotógrafo um suplício.

Dia destes, minha mulher quase morreu de rir, ao encontrar a foto nos meus achados e perdidos. Lá está retratado um garoto ingênuo, de olhos arregalados, numa pose imponente. Terninho cinza, calças curtas, meias brancas e sapatos pretos de verniz. Recrimino certos políticos desde a infância. Eles adoram holofotes.

Não consigo entender certos políticos que se deslumbram diante de câmeras e holofotes. Pior ainda. Assessores, papagaios de pirata, que se postam atrás do entrevistado para aparecer na fita. Vejam nos telejornais. Basta alguém importante dar uma entrevista que eles estão lá atrás.

Como diria o conselheiro Acácio, cada qual tem os minutos de glória que merece.

 

Alcindo Garcia é jornalista – e-mail: [email protected]

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