MEMÓRIAS DE UM LOCUTOR

Por Alcindo Garcia

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Há tempos deixei de cumprir horários nos estúdios das emissoras por onde passei. Foram tantas. A locução é uma profissão muito digna. Hoje ainda gravo matérias. Participo como leitor na minha paróquia. Lembro-me do meu tempo em que fazia parte de um trabalho com um musical bem selecionado. Tenho bom ouvido para músicas. Hoje o rádio continua sendo meu companheiro nos noticiários da manhã.  Fora disso rejeito sons de caminhonetes que desfiguram tudo. Na minha rua, por exemplo, todo dia para uma caminhonete tocando (perdão) berrando  “Pamonha, Pamonha, Pamonha”.Com tanto lixo eletrônico tocando em bocas de sons de caminhonetes barulhentas, resta curtir a saudade do romantismo de minha fase como locutor. Turno de quatro horas por dia, enclausurado num estúdio acústico, separado por um vidro que dava para a técnica de som, onde curiosas ouvintes que já me conheciam pela voz, iam bisbilhotar como eu era pessoalmente. Certa vez uma fã ao meu ver pessoalmente pelo vidro no estúdio exclamou para o técnico de som “Nossa! Pensei que ele fosse um Tarzan”!…

A rádio era ouvida em todo o Brasil. Sabia que meus pais me ouviam no interior sem que eu pudesse vê-los. Longe dos pais, por quatro horas, solitário e entre quatro paredes, falava para ouvintes imaginários!… Muitas vezes trabalhei  entoando na voz e na dicção uma falsa alegria, ao anunciar programas para cumprir horário. O consolo era ouvir as seleções musicais de uma época romântica.

Locução que me confortava quando anunciava e ouvia Roberto cantando “Detalhes”, Altemar Dutra cantando “Foi Deus” ou  Wilma Bentivegna interpretando a versão brasileira de Edith Piaf.  “Himn to love”  “Se o azul do céu escurecer / e a alegria da terra fenecer / não importa querida, viverei do nosso amor / Se tu és o sol dos dias meus / se os meus beijos sempre foram teus / não importa querida, o amargor das dores desta vida / Um punhado de estrelas / no infinito irei buscar e a teus pés esparramar”… (apenas um trecho da letra).

Hoje acordo cedo ouvindo ‘PAMONHA, PAMONHA, PAMONHA.

 

Alcindo Garcia é jornalista –  e-mail: [email protected]

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