MINHA IDENTIDADE
De vez em quando recebo e-mails perguntando que apito eu toco. Respondo. Este sou eu: Adoro crianças, principalmente aquelas que estão no colo da mãe na igreja na minha frente e ficam me encarando. Algumas me sorriem. Impossível saber o que elas estão vendo em mim. Dou risadas de coisas serias. Isso me incomoda. Percebo quando alguém não é sincero. Aprendi a conhecer a sinceridade nos olhos das pessoas.
Meu adoçante é mel de abelhas. No rótulo vejo que é produzido em Formiga, Minas Gerais, terra do Padre Fábio de Melo. Trabalho em duas etapas. Escrevo quando não estou gravando. Gravo quando não estou escrevendo. Faço leituras na igreja e na saída encontro gente a me perguntar se sou eu que fiz o “comercial” da Renaux. Não, não fui eu. Ganho o suficiente, mas menos do que deveria.
Detesto avião, principalmente, quando ao subir, entorta do meu lado para fazer a volta e seguir a rota. Incomoda-me quando a aeromoça percebe minha cara e pergunta se “eu quero um chazinho”. Na rua, quando o dono do carro para ao lado do meu com som alto, em último volume, concluo que deve ser surdo. Faço o diagnóstico, mesmo sem ser médico otorrino.
A propósito, não gosto de ar-condicionado porque me ataca rinite e sinusite. Acho que quem o inventou foi um médico otorrino que abandonou a profissão e ficou milionário. Nunca votei no PT e nas últimas eleições anulei meu voto. Já previa o que ia acontecer. Um presidente que recentemente apoiou uma manifestação pedindo a volta da ditadura em frente o Palácio do Planalto.
Na minha rua adoro ouvir a caminhonete anunciando “Pamonhas, pamonhas de Piracicaba”. Não sei se vem mesmo de Piracicaba. Gosto de pamonha doce embrulhada na casca do milho e amarrada pela cintura com barbantinho verde. E pudim de leite condensado? Quando vou ao Hotel Rainha, em Aparecida, o gerente me vê e diz “tragam mais pudim, que ele chegou”. Descobri que o mendigo que estende a mão pedindo uma moeda, ele quer mais um sorriso e uma conversa. A moeda não compra a sua solidão.
Para encerrar, detesto gente que elogia alguém, mas em seguida põe o advérbio (mas, porém, todavia) é porque vem chumbo. Vão falar de algum suposto defeito. Gosto de gente sincera. Este sou eu. Sou assim.
Alcindo Garcia é Jornalista – e-mail: [email protected]