O legado do Papa Bento XVI: a importância do diálogo entre fé e razão

Por Thulio Donizete Fonseca Silva

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Joseph Ratzinger, foi um fiel leigo, sacerdote, bispo, cardeal e Papa da Igreja Católica. Um mês após seu falecimento, que demonstrou grande relevância para o mundo, e sobretudo para os cristãos que acompanharam atentamente cada etapa do seu funeral, ficou ainda mais evidente o quão importante é contemplar a riqueza espiritual e a grandeza de seu legado.

 

A reflexão que se desenvolve em torno de toda a obra de Bento XVI exalta, em particular, a relação entre fé e razão, que segundo tantos escritos do Pontífice, são elementos que devem passar por uma união necessária, rompendo a delicada fronteira entre a sabedoria e a ciência. E nesse horizonte, ele sublinhava que a fé, certamente, não é contrária à razão, e sim uma é sustento para a outra, através de seus inúmeros desdobramentos.

 

Com muita coragem, o grande estudioso que governou a Igreja por oito anos, afirmou, inúmeras vezes, diante de grandes assembleias, que a sociedade teme o Absoluto e o experimenta como limite e imposição; e, deste modo, tenta combatê-lo. Bento nomeou esse fenômeno como a “ditadura do relativismo”, um dos preciosos ensinamentos do seu magistério papal.

 

No modelo de diálogo entre fé e razão proposto por Ratzinger, a fé é autossuficiente e tem vida própria. A fé ilumina. A razão se esforça para entender porque estamos “além”, neste encontro entre as pessoas, o homem e Cristo, e todo “encontro” só se dá pelo reconhecimento mútuo. Para o cristão, para quem o encontro com a fé é uma verdadeira experiência pessoal, Bento XVI enfatizou que essa atitude diz respeito ao coração e ao espírito, antes mesmo da mente e da razão.

 

Uma outra característica singular, quando lemos ou escutamos o que nos deixou o Papa Bento XVI, é sua gentileza com o uso das palavras, permeada por um zelo inconfundível. Ele apresenta a religião como dom e testemunho de um caminho possível, sem querer impor convencimentos ou verdades. O Pontífice inclusive afirmou, inúmeras vezes, que a fé é gratuita e precisa ser libertadora.

 

É justo reconhecer e aprofundar o seu legado, inteiramente centrado na conjugação da fé e da razão e na vontade de levar Deus aos homens e os homens a Deus, principalmente, através da sua leitura do Concílio Vaticano II, que tem uma face prospectiva e, certamente, não pode ser reduzida a uma visão limitada.

 

O grande compromisso da Igreja, segundo a lição conciliar recolhida por Bento XVI, é reformular a sua missão num tempo de profundas mudanças. Deste modo, a fé e a razão, a relação com a ciência, as mudanças antropológicas, a relação com as grandes religiões, o ecumenismo, são os campos nos quais o Concílio continua a dar frutos. E esses frutos foram cultivados e desenvolvidos ao longo do tempo por Joseph Ratzinger.

 

Tal caminho, enfim, se expressa em suas últimas palavras: “Jesus, eu te amo”, que em sua força e simplicidade testemunham, na hora final, a necessidade de manifestar, expressar e viver a relação com uma Pessoa, com o Amor, elo salvífico que indica que a fé e a razão conversam entre si, incansavelmente, até o último suspiro.

 

Thulio Donizete Fonseca Silva é jornalista, membro da Família Salesiana, e voluntário na Comunidade Canção Nova em Roma (IT).

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