PLANTANDO BATATAS
Não é ficção. Um pai da Pátria – (o leitor já deve saber a quem eu me refiro) – dava uma entrevista coletiva. Não tolera a imprensa. Ofende jornalistas. Se não gosta de uma pergunta o repórter ou a repórter sente que o homem só não está lhe mandando “plantar batatas”. Suponhamos que o repórter preferisse ser mandado “plantar batatas”. Seria menos ofensivo ser agricultor e plantar um alqueire de batatas. Mas não é nossa praia. Nosso ramo é a escrita e o homem não gosta.
Se mandasse “plantar batatas” seria uma honra porque estaria se identificando a si próprio. Batata é um tubérculo de caule curto e grosso. Como se vê, ser “curto e grosso”, não é privilégio só do tubérculo. O considerado também se assemelha ao caule. O caule da batata é curto, não cresce muito, por isso não desenvolve. A batata como qualquer outro tubérculo germina no interior da terra. Se não for colhida, apodrece por falta de luz própria.
Existem várias espécies de batatas. A batata também tem outros significados. Batatada, em jornalismo, é escrever errado. Aprofundando o tema, o considerado desconhece que mandar “plantar batatas” (ele nunca usou esse xingamento), mas já se dirigiu a uma repórter como “mentirosa”. Li no tempo da escravidão, tanto quanto hoje, existia igual prepotência dos que não gostavam da imprensa. São tão medíocres que entendem que um imaginário poder político lhes da o direito de ofender a quem quiser.
O pai da Pátria deveria saber que foi a imprensa a responsável pelo fim desse tipo de arrogância no país. Dois jornalistas, José do Patrocínio e Alcindo Guanabara, desencadearam violenta campanha nos jornais contra a escravidão. A princesa Isabel admirava a dupla e era leitora assídua de seus artigos. Incentivada pela mídia ela aboliu a escravidão no Brasil e ainda convidou os jornalistas para um papo.
Convenhamos, mandar alguém “plantar batatas” ou coisa parecida, já é arrogância fora de moda. Gente que ainda conserva os resquícios de uma época jurássica em que a prepotência era estimulada por um suposto poder político, tipo zero a esquerda. Ah! Ia me esquecendo. A batata-doce é roxa. (roxa de raiva).
(Alcindo Garcia é jornalista – e-mail:[email protected]