POR QUEM OS SINOS DOBRAM
Diocese de Assis
Vivi em 2009 uma experiência missionária inusitada. Diferente talvez para um pregador em território de maioria católica, mas não para tantos outros em territórios desse mundo quase sem Deus. Melhor: sem Deus não, mas sem fé. Brasil, um país católico! Será? Pois minha experiência foi conhecer exatamente o oposto, quando visitei a cidade de Nova Santa Rosa, diocese de Toledo, no sudoeste do Paraná. Quando chego a uma pequena cidade do interior, a primeira referência que busco é a praça central, onde sempre se encontra a igreja católica. Lá estava…, bela e portentosa, a praça central, com sua igreja em destaque. Estacionei meu carro bem ao lado, procurando em seguida a casa paroquial. Ao me aproximar, percebi: era uma igreja luterana.
Mas logo ao lado descobri outra igreja enorme. Seria aquela? Também não, pois ali era a matriz dos presbiterianos. Logo percebi que naquela rua, a cada quarteirão, existiam enormes igrejas, mas todas elas evangélicas. Busquei informações e me indicaram então, dentre tantas igrejas, a católica, a antepenúltima daquela rua. O padre já me esperava à porta.
Durante o almoço ele me falou de seus três anos naquela comunidade, de suas experiências em outras comunidades, de seus desafios pastorais e missionários anteriores. Nada igual aos que enfrentava agora naquela comunidade majoritariamente evangélica (70%), onde os católicos professam sua fé não porque estejam embalados pelo testemunho da maioria evangélica, mas porque valorizam conscientemente o batismo que receberam de seus pais. Por isso são mais autênticos. Por isso são amados e respeitados pelos irmãos das outras denominações. Não se envergonham da fé que possuem!
À tarde, pude me reunir com as lideranças da comunidade católica. Entre eles também estavam alguns representantes da comunidade evangélica. A riqueza dos questionamentos não evidenciou, em momento algum, qualquer divergência que os levasse a maiores discussões. A convivência fraterna entre eles era o grande sinal de partilha que a fé em Cristo nos convida a salientar. É esta a maior riqueza que o cristianismo autêntico pode oferecer ao mundo. Isso eles já sabiam. Isso eles me provaram na prática!
Quando me preparava para a primeira Celebração da Partilha, às 19:00, eis que repicam os sinos. Um toque característico nas comunidades do interior, mas ali… Ali o som era especial. Primeiro badalaram os sinos da igreja luterana, convidando seus fiéis ao culto. Em seguida, os sinos católicos reforçavam o convite, anunciando nosso encontro eucarístico. Os sinos chamavam o povo, qual canto materno para o recolhimento do dia, o momento de se dar graças… Fiquei com aqueles sons em minha mente por vários dias. Por quem os sinos dobram?
Por Jesus… Mas cada qual convidando suas ovelhas, porquanto eram muitos os redis. A equipe do canto já se posicionava no átrio da Paróquia de Santa Rosa de Lima, a primeira santa latino-americana! Mais um sinal profético, ser esta a padroeira da paróquia, da cidade que me acolhia como missionário… Missionário leigo e católico! Santa Rosa, a primeira rosa… Mas o padre já me apresentava os membros de sua equipe, apesar de estar absorto ainda, anestesiado pelos sinos, pelas reflexões, pelas revelações de uma autêntica experiência ecumênica. “Alguns dos membros dessa equipe também fazem parte de corais evangélicos”, deixou escapar meu anfitrião. E minha reflexão foi acrescida de uma novidade: aquelas vozes, aqueles abnegados instrumentistas, que durante a missa cantavam loas a Maria e glórias ao Cristo Eucarístico, também partilhavam seus dons cantando hinos à fé cristã entre irmãos de outro aprisco! Pé em duas canoas? Não, porque a barca de Cristo é uma só.
20 anos de Palavras de Esperança. Publicado em 01 de maio de 2012.
WAGNER PEDRO MENEZES [email protected]