Professores e aluno de Arquitetura da UNIP são campeões no Concurso Memorial COVID-19 Fiocruz
O Memorial será construído em um terreno da Fiocruz, no Rio de Janeiro.
Dois professores da Universidade Paulista – UNIP e dois arquitetos, sendo um deles ex-aluno da UNIP, foram vencedores do Concurso Memorial COVID-19 Fiocruz – Ciência e Saúde, por elaborarem um projeto arquitetônico e paisagístico em homenagem às 700 mil vítimas da COVID-19 no Brasil.
Organizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ), o concurso contou com 88 propostas apresentadas para premiações dos três primeiros lugares e cinco menções honrosas. A equipe da UNIP subiu ao pódio para comemorar a conquista do primeiro lugar no dia 23 de maio, durante cerimônia de premiação no Museu da Vida Fiocruz, no campus sede Manguinhos, no Rio de Janeiro.
A equipe da UNIP contou com quatro integrantes: o professor mestre Paulo José Tripoloni, do campus Marquês de São Vicente; a professora doutora Fernanda de Macedo Haddad, dos campi Marquês, Tatuapé e Anchieta; o ex-aluno Gabriel Costa Dantas; e o arquiteto Pablo Mora Paludo. O grupo iniciou a produção do projeto em março deste ano, concluindo-o em menos de dois meses.
Para saírem vitoriosos, eles propuseram a criação de uma edificação que representasse um espaço de serenidade para inspirar atitudes positivas de reflexão e transformação sobre o que foi vivido durante a pandemia: as angústias, preocupações, reclusões, isolamentos, mudanças e a esperança de superação, promovendo um conceito de continuidade da vida.
O professor Paulo Tripoloni conta que, após avaliação do terreno da Fiocruz no Rio de Janeiro, onde será construído o Memorial, buscou-se compreender as características do ambiente e, considerando-se todas as variáveis, a decisão foi criar uma praça protegida em plena Avenida Brasil, uma das vias mais movimentadas e um dos principais logradouros da cidade carioca.
A organização dos fluxos, segundo Paulo, se dará pelos acessos e percursos criados para direcionar o olhar à natureza existente. Para isso, foram utilizadas empenas, que são paredes, geralmente sem aberturas, que servem de elemento de fechamento para uma edificação.
As empenas servirão de proteção acústica e visual, além de também propiciar um espaço de acolhimento. “Será um local de aconchego para a alma, propondo um isolamento às avessas da pandemia, um local de paz, de verde e ao som dos pássaros que nele habitam. As empenas brancas que envolvem o conjunto serão como lenços que enxugam as lágrimas. A água, que cairá como lágrimas, fluirá em direção aos lagos, simbolizando a transformação e o renascimento. Ao percorrer o memorial, os visitantes serão guiados à contemplação e incentivados a continuar através da interação lúdica com os espaços naturais. A intenção é transcender a serenidade. Este é um memorial forte e sutil, representando a resiliência necessária para a continuidade e transformação da vida, enquanto mantém o devido respeito aos que se foram e exalta a coragem dos que enfrentaram essa adversidade”, explica o professor.
De acordo com esse conceito, as potencialidades do projeto miraram em cores sóbrias nos pisos e em empenas curvas e brancas para se destacarem no espaço em contraste com o verde vivo das matas e o elemento construído. Os espelhos d’água remeteram ao reflexo natural existente e buscaram transmitir a tranquilidade das águas. “O fluxo entre eles representa o processo de isolamento até a cura, um processo lento e contínuo em busca da vida. As quedas d’água que emanam das paredes, como lágrimas, criam internamente a atmosfera desejada pelo som da água corrente durante os momentos de contemplação. Os acessos estabelecem a conexão fluida entre os espaços, entrelaçando o interior e o exterior, a cidade e a natureza, a barreira e a contemplação, a doença e a cura. Uma grande pedra representará o combate ao vírus, reforçando a importância da pesquisa, da tecnologia e o empenho dos profissionais que buscaram intensamente a vacina, a cura. A água que emana dela representará a pesquisa que regou a todos com a fonte de esperança”, complementa Tripoloni.
Sete grandes esferas de vidro representarão as mais de 700 mil vítimas da COVID-19, simbologia do equilíbrio que o homem necessita ter com a natureza e a expansão da consciência das relações entre a espécie humana. A iluminação evidenciará os caminhos em busca da cura, jogando luz sobre o choro (lenços) e retornando à iluminação interna dos lagos como um ciclo, como a vida.
O respeito à natureza foi um ponto de suma importância no projeto e será demonstrado na preservação de todas as árvores, na limpeza da vegetação do entorno e na criação de bosques para melhorar a permeabilidade do solo e do olhar que será destacado com o paisagismo proposto.
Sobre os materiais
Os materiais apresentados são naturais para compor com o entorno vegetal e criar a textura que contrasta com a fluidez da empena e a liquidez da água. Os passeios revestidos por pisos fulget, revestimentos que misturam pedras naturais, agregados, cimentos e resinas, na cor “cinza”, irão conferir homogeneidade e segurança no caminhar. As pedras (seixos) em ardósia mais escura criarão uma textura rugosa que faz o “anteparo” entre o natural e o construído.
Os espelhos d’água, na cor escura “queimada”, aumentarão a reflexividade incidente das árvores e da edificação construída, mantendo também a sobriedade das cores para destacar o verde e o branco da empena.
Na construção da empena será utilizado concreto. Já os bancos, também do mesmo material, serão dispostos nos espaços para direcionar nas diferentes vistas ao mesmo tempo que marcam o caminho.
O paisagismo equilibrado irá compor a vegetação existente com a proposta de arbustos de baixa e média altura, com diferentes cores e tonalidades, que se destacará com a poda específica de galhos das copas e da vegetação do entorno, contribuindo com maior permeabilidade de iluminação e do olhar.
A iluminação se utilizará de postes de altura de 4 metros em todo o entorno para direcionar o externo do interno, enquanto os caminhos serão iluminados por balizadores e as empenas por luzes direcionais iluminadas de baixo para cima, fazendo com que fiquem clareadas e tornando o centro da praça mais escuro, contribuindo para ressaltar a iluminação das esferas.
Tudo isso foi apresentado em três pranchas no formato A1, portanto, de forma desafiante e sucinta, mas abrangente o suficiente para que os jurados pudessem avaliar e sentirem-se num memorial construído. Não bastasse, a equipe contemplou por acréscimo dois Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU: o ODS 3, que propõe atingir a cobertura universal de saúde, incluindo a proteção do risco financeiro, o acesso a serviços de saúde essenciais e de qualidade e a medicamentos e vacinas eficazes; e o ODS 16, que coloca a necessidade de construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.
“O trabalho foi desenvolvido em conjunto, enobrecendo cada tracejado, cada linha, cada ideia, incluindo a elaboração inicial do conceito, do desenho técnico, da elaboração de diagramas, da definição do peso e representação das peças gráficas, além da diagramação das pranchas”, detalha o professor Paulo Tripoloni.
A participação ficou assim dividida
– Professor Paulo José Tripoloni: conceito, organização do fluxo de trabalho, textos, gestão da modelagem das empenas, imagens 3D e revisão de projeto.
– Professora Fernanda de Macedo Haddad: desenvolvimento, revisão dos textos e auxílio na montagem das pranchas.
– Arquiteto e ex-aluno Gabriel Costa Dantas: conceito, desenvolvimento, refinamento das peças gráficas e diagramas e diagramação das pranchas.
– Arquiteto Pablo Mora Paludo: conceito, textos e desenvolvimento do projeto.
A planta e todos os detalhes do projeto podem ser conferidos em: https://memorialcovidfiocruz.com.br/vencedores