Se os prefeitos calculassem…

Por José Renato Nalini

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Como é sabido, obras que não aparecem não seduzem a maior parte dos gestores públicos brasileiros. Por isso é explicável, embora não admissível, o atraso na implementação do Marco Legal do Saneamento. Fazer estação de tratamento de esgoto, que importa em tubulação pulverizada em todas as residências, tratar água de forma a fornecê-la em condições ótimas de potabilidade, tudo isso deixa de ser atraente para quem prefere fazer festa de São João, festivais, coisas que dão marketing.

Só que o custo de se deixar de lado o saneamento básico é muito elevado. De acordo com a Organização Mundial de Saúde – OMS, mais de dois bilhões e duzentos milhões de pessoas não têm acesso à água tratada e mais de três bilhões e quinhentos milhões não contam com serviços de saneamento geridos de maneira segura.

Mais de dois bilhões de humanos não podem utilizar recursos básicos de higiene. E o saneamento precário faz cair em queda bruta o bem-estar da população e a qualidade de vida de todas as pessoas.

Além das questões de saúde, há um atraso do desenvolvimento social e econômico, diante de impactos como ansiedade, risco de agressão sexual e perda de oportunidades educacionais e de trabalho. Já as doenças como cólera e disenteria, febre tifoide, infecções por vermes intestinais e poliomielite, tudo deriva da falta de adequado saneamento.

Além disso, há retardo no crescimento infantil e disseminação da resistência antimicrobiana. Daí a responsabilidade dos administradores municipais, já que é na cidade que as pessoas moram e vivem

Os impactos positivos do saneamento para todos são evidentes: retorno de cinco dólares e meio para cada dólar investido, em razão de custos menores em saúde, maior produtividade e menos mortes prematuras. Queda de casos de diarreias e da disseminação de vermes intestinais, esquistossomose e tracoma. Redução da gravidade e do impacto da desnutrição. Promoção da dignidade e aumento da segurança, especialmente entre mulheres. Impulso à frequência à escola, especialmente entre meninas, quando há provisões de instalações de instalações sanitárias adequadas. Potencial recuperação segura de água, nutrientes e energia renovável a partir de águas residuais e lodo e possível aumento da resiliência geral da comunidade a choques climáticos.

É uma pauta e tanto. Os futuros prefeitos deveriam colocar tudo isso no radar e levar mais a sério o saneamento básico de suas cidades.

José Renato Nalini é reitor da UNIREGISTRAL, professor da pós-graduação da UNINOVE e secretário-executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.

 

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